O enfrentamento das provações e a espiritualidade sob a ótica do evangelho

RESUMO DA NOTÍCIA

Para o escritor bíblico Tiago, a maneira como enfrentamos as provações dimensionam o nível de nossa relação com Cristo.
Vivaldo S. Melo

Num mundo que busca avaliar constantemente a produção humana, em todas as áreas, talvez seja importante cada cristão buscar referências (parâmetros) para a avaliação do cristianismo que vivencia, não por outra razão que não seja o desejo de adequar-se ao molde de Cristo e, assim, ser instrumento para abençoar pessoas, instituições, contextos, etc. 

Livros sobre o assunto não faltam. E talvez o melhor deles seja a Carta de Tiago. No capítulo primeiro deste livro bíblico, segundo análise feita pelo conceituado teólogo John Stott, ele indica alguns testes. De cara fica evidente que o melhor contexto para avaliar crescimento espiritual, não é o de realidades tranquilas, estáveis, mas de provações. Os cristãos para os quais a carta é direcionada estavam sendo perseguidos de forma cruel, por causa da fé que abraçaram em Cristo Jesus. 

No contexto desta perseguição, esses cristãos foram dispersos e perderam coisas como bens, família e amigos. A pobreza e o luto passaram a ser parte do cotidiano. Em síntese, eles estavam sendo testados e um desses testes eram as provações.  Que reação eles estavam tendo diante daquele cenário de perseguição, com todos os seus reflexos?

Antes de trazer para a nossa realidade, especialmente nesses dias de pandemia, e responder essa indagação, precisamos ter em mentes três referências importantes sobre as provações que surgem ao longo de nossa jornada terrena:

(a) – Elas são inevitáveis. O verbo “Hotan” no modo subjuntivo aponta para uma realidade. Ou seja, as provações não são uma possibilidade para quem “está em Cristo”, mas elas são inevitáveis.
 
(b) – Elas são diferentes – O termo grego original, “poikilós” indica formas diferentes, variadas. Podemos ser provados de diversas formas: saúde, finanças, sentimentos, relacionamentos, etc. 
 
(c) – Elas não terminam. Por que tem que ser assim? Por várias razões. Uma delas é o fato de vivermos num mundo caído, onde as marcas do pecado estão em todo lugar, impondo, permanentemente uma luta entre aquilo que conceitualmente chama-se de bem e mal. 

Seguindo a análise de Stott, com base nos primeiros versículos do capítulo em menção e conectando provação com crescimento espiritual, temos alguns parâmetros:

 1. Demonstramos crescimento espiritual quando encaramos as provações como um meio de experimentar a pessoa de Deus. Talvez por isto Tiago diz algo estranho ao espírito de quem não vive as realidades do evangelho: devemos encarar as provações com alegria. Não pelo teste, mas pela experiência da intervenção de Deus, de várias formas, com suas implicações, uma delas experimentá-Lo.
 
2. Demonstramos crescimento espiritual quando nas provações perseveramos! – Essa postura, que não é uma mera resistência, uma paciência avançada ou definida como resiliência, se fundamenta na compreensão de que Deus, de alguma forma, não está ausente dos cenários sombrios de nossa caminhada. Quando perseveramos nesta perspectiva, alcançamos duas bênçãos próprias de uma espiritualidade avançada: a maturidade, que é aquilo que é totalmente desenvolvido, e a integridade, que é aquilo que é completo.

As provações, indesejáveis do ponto de vista humano, cumprem  uma função importante no processo de crescimento da vida cristã: uma vez suportadas, produzem maturidade e integridade. Ou seja, ajudam a formar um ser completo, embora, claro, imperfeito. 

3. Demonstramos crescimento espiritual quando nas provações oramos, pedindo sabedoria. Temos neste texto bíblico uma ênfase maravilhosa: diante das provações Tiago não pede livramento, como geralmente fazemos, mas sabedoria. Sabedoria, certamente, para sabermos “como” atravessar o processo de provação. 

Que provação, leitor do Castanheira News, você está enfrentando neste momento de sua vida? Saiba que a maneira como enfrenta-la pode indicar o nível de seu crescimento espiritual. Que os três parâmetros possam ajudá-lo no necessário enfrentamento.