Estamos neste momento vivenciando uma pandemia onde há a recomendação da Organização Mundial da Saúde – OMS pelo isolamento social, como medida preventiva ao contágio do vírus.
Acontece que, no Brasil, há uma grande taxa de mulheres que se encontram em situação de violência, o que, como os dados a seguir nos apresentam, tem se intensificado durante a pandemia.
O Forúm Brasileiro de Segurança Pública (2020), mostrou uma comparação entre os meses de março e abril de 2018 e 2019 referente à violências domésticas, na comparação as denúncias registradas cresceram de 5,6 % entre estes anos; já as notificações comparadas em 2019 e 2020, subiram para 27%.Devido ao isolamento as mulheres tem dificuldades para se locomoverem e fazerem as denúncias. Dessa forma, os dados apresentados não representam a realidade de uma forma adequada.
Ao contrário do que muitos pensam, a violência doméstica não se caracteriza apenas com as agressões físicas, ela abrange:
(1) A violência física, uma das tipologias mais fáceis de identificar devido as lesões serem mais evidentes. Durante o ciclo da violência as agressões evoluem, ou seja, começam com agressões mais sutis e pode chegar ao feminicídio. Além disso, a violência física apresenta-se nos puxões de cabelo, ao apertar com firmeza o braço da vítima, ao atirar objetos para ferir e/ou amedrontar e entre outras agressões.
(2) A violência psicológica, uma das formas mais sutis onde as vítimas podem demorar mais tempo para identificá-la. Ela se apresenta pela ação que fere a autoestima, restringe o poder da vítima de tomar decisões, diminui o seu círculo de convívio social, controle dos lugares que frequenta, humilhações e perseguições.
(3) A violência sexual, que se dá pela restrição da liberdade sexual da vítima, alguns modos desse tipo de violência são: o estupro, abuso sexual, não permitir o uso do anticoncepcional, expor a condições sexuais desagraveis e a obrigar a prostituição.
(4) A violência patrimonial, apresentada na ação de danificar ou levar a perda de um bem ou valor da vítima, como a destruição de documentos pessoais, a limitação do acesso do bem, não pagar pensão, estelionato e controlar o gasto dinheiro da vítima.
(5) Por fim, a violência moral, que está presente nas ações que fere a moral, tais elas: acusação de traição, realizar críticas sem fundamentos com a realidade, inferiorizar a vestimenta da vítima e pronunciar xingamentos.
A dimensão da violência doméstica não é bem revelada por números estatísticos e definição da sua tipologia. Ela afeta os mais variados segmentos da sociedade, alguns deles, a política, a economia, a educação e inclusive, a saúde pública. Ao se falar em saúde, as vítimas de violência doméstica estão vulneráveis aos mais diversos males que afetam seu corpo e sua mente. Quando se trata da saúde mental carregam graves conseqüências, desde a baixa autoestima até ao adoecimento psíquico.
Frente ao exposto, somos convidados, convidadas e convidades a pensarmos sobre a dimensão de violências sofridas por mulheres e quais seus pilares, para que possamos discorrer sobre este assunto com urgência, transparência, ética e responsabilidade que o mesmo pede, assim como manifestarmos uma atenção maior e denunciarmos suspeitas ou violações de direitos de mulheres, seja através do Disque 100 ou para a Polícia Militar no 190.
Este assunto é extremamente amplo e precisa ser discutido com especificidades. A intenção é sempre causar inquietude à quem lê, seja identificando nos seus próprios relacionamentos, ou relacionamentos de outras pessoas. Questionando a naturalização, o avanço e o silêncio diante da violência doméstica. Para dialogarmos em uma direção onde pessoas possam viver de forma digna, sem terem suas vidas e vivências ameaçadas.
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Violência Doméstica: durante a pandemia do Covid 19. ed. 2. 2020. Disponível em: <https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2020/06/violencia-domestica-covid-19-ed02-v5.pdf>. Acesso em: 23 jul. 2020.