A palavra “marginal” não define apenas uma pessoa que vive à margem da lei. Pode definir, também, alguém que segue ao longo da margem. Não é o centro das atenções, mas não significa que não tem alguma qualidade ou valor. Muitos destes seriam ótimos, se simplesmente fossem estimulados ou valorizados. É o caso de Luis Barbon, paranaense de 70 anos, empreendedor da agricultura familiar, na Comunidade Santa Elisa, na 2ª Etapa do Vale do Seringal, que no dia 04 de agosto foi “levado por Deus”. Era assim que ele dizia dos que faleciam em sua emissora de rádio improvisada, com equipamentos montados por ele mesmo.
Luis Barbon chamava a emissora, que já chegou a funcionar no alto de um morro, no meio do mato, de “Trans Segundo Assentamento”, parodiando a Trasamérica Hits. Dos poucos ouvintes, entre eles os vizinhos Pedro Rosa, João Borba, Claudia Mafra Rios, Edson Ferreira e Antonio Rogério Favoreto, será lembrado, como alguém diferenciado.
Quem tem muito a dizer sobre ele, mais conhecido por Paraná, por conta de sua origem, é o amigo Pedro Rosa, proprietário da JP Eletro, e também seu vizinho de propriedade rural. Embora vendesse verdura e banana na região dos Assentamentos e na Feira de Castanheira, inevitável não associá-lo a essa paixão pela radiofonia e por seu trabalho em garimpo.
Da Rádio “Cipó”, como alguns chamamavam a emissora onde ele mesmo era o locutor ou 101.1, como gostava de enfatizar sobre a referência no “dial” dos aparelhos, Pedro lembra da instalação de uma antena, alta, usando a mesma técnica que se usa para o hasteamento de uma bandeira. Do garimpo, de um sistema instalado no segundo andar de um barraco de madeira, onde no primeiro mantinha uma Mercearia. “Foi no Garimpo do Arroz, em Juína”, diz.
O começo
Poucos sabem dizer quando Paraná se estabeleceu na região do Vale do Seringal, em Castanheira. João Borba assegura que há 30 anos ele já andava por aqui, trabalhando no garimpo de Vale Ouro. Há cerca de 20 anos tornou-se assentado, estabelecendo-se no local onde terminou seus dias.
Quem o conheceu da arte de prosear, que fazia com entusiasmo, sabia no dia 4 de agosto que não terminava ali o capítulo mais triste de sua história. Quando deixou o Estado do Paraná, na segunda metade do século passado, seu único filho tinha três anos de idade. Nunca mais se encontraram. Mas, no seu Rancho ainda é possível ver uma placa onde se lê “Advogado Dr. Luciano Martiolo Barbon” e logo abaixo “Luis Barbon, proprietário”. Segundo Pedro, era uma forma de se lembrar do filho, que se formou em advocacia.
No dia de sua morte, Luciano, residindo em Londrina, foi comunicado. O embalsamamento do corpo, que só foi sepultado três dias depois, possibilitou o reencontro tardio. Mas, como lembra o velho dito “antes tarde do que nunca”. Luciano certamente voltou feliz para o seu Estado, pois teve a oportunidade de ouvir histórias e depoimentos positivos a respeito de seu pai. Os ouvintes da Rádio, já falam em saudade. Foi o que restou...