Festa ou velório: a dor de um palhaço!

Conta-se como verídica a história de um homem que procurou um médico para compartilhar que andava deprimido. 

O médico, entre outras coisas, lembrou-lhe que na cidade fazia temporada o famoso palhaço Paggliaci. “Vá ao Show. Você vai rir. Vai se animar!”, disse. O homem, contudo, para seu espanto, disse que ele era o palhaço Pacliacci. 

Fiquei pensando, e se, ao contrário, aquele médico dissesse: "olha, hoje morreu alguém na cidade. Vá ao velório e depois volte aqui, vamos conversar!"

O sábio Salomão, ao dizer que é melhor ir na casa onde há luto do que onde há um banquete, que poderia muito bem ser também um lugar onde pressupõe existir alegria, como num circo, certamente pensava em muitas coisas. 

No caso do palhaço, sem desejar simplificar uma questão tão complexa como a das angústias nossas de cada dia, talvez voltasse ao médico e ouviria que sempre existem situações mais difíceis do que a nossa. 

Viver, por exemplo, quando vemos o fim de tantos, todos os dias, muitos dos quais jovens, já se constitui uma vantagem, mesmo que os tempos não sejam bons. 

E se o médico em questão fosse cristão, poderia lembrar de um dos ditos mais ditos de Cristo: “no mundo tereis aflições!”, daí ser importante termos bom ânimo. N”ele, Cristo, a vida ganha plenitude no aqui e no agora e um sentido eterno no amanhã.

Mas, precisamos nos lembrar que cada um, na medida em que caminha, compõe sua própria história, tendo sua própria dor e reagindo de maneira diferente a ela. 

Dimensionar coisas como a dor do outro não é justo e honesto. Daí, o fato do personagem que procura o médico ser palhaço talvez nos desafie a aprofundarmos as relações pessoais, em amor, pois só assim ganharemos a capacidade de ver e ler além das aparências e sermos instrumento de ajuda e solidariedade. 

Vivaldo S. Melo