Em tempos extremos e polarizados, nos quais parece não existir mundo além do que se convencionou chamar, na política, esquerda e direita, fazendo com que pessoas sejam facilmente julgadas quando não afinadas com um ou outro modelo, sempre é oportuno lembrar que Deus é soberano, governando sobre tudo e todos, removendo reis e estabelecendo reis (Daniel 2.21).
Não acredito – e respeito quem pensa diferente – que exista em nossa cultura política algum partido político que represente, em inteireza, sendo de esquerda ou de direita, e suas várias vertentes, os postulados bíblicos que nos são caros. Também acredito que não basta citar o nome de Deus para granjear autoridade, pois “até os demônios creem e tremem” (Tiago 2.19).
Como modelo bíblico ideal de um projeto cristão, nesta área temos a teocracia vigente no Velho Testamento. E lá fica evidente que até os que se enquadram neste paradigma, quando investidos de poder, ignoram a boa, perfeita e agradável vontade de Deus (Romanos 12.1). O que vemos alí? Os fatos são claros, num tempo em que não havia fake News. A maioria dos reis estabelecidos neste modelo de governança, eram regidos por suas próprias vontades e vaidades. Salomão, por exemplo, que até é alçado a condição de modelo, não se enquadrando na avaliação corrente dos que fizeram “o que era mau aos olhos do Senhor”, quando teve a oportunidade de ser justo com quem mais precisa de um olhar carinhoso das autoridades, resolveu seguir o centrão da época, seus amigos, ignorando o conselho de homens sábios que, como Josias, este sim grande exemplo, não se desviavam nem para a direita e nem para esquerda. A decisão de aumentar os impostos, dividiu o Reino.
O grande problema dos que governam, muitos dos quais usando o nome de Deus – aliás usar o nome de Deus é recurso corrente em outras áreas, inclusive para gerar riquezas materiais – é o espírito de Uzias, que foi “maravilhosamente ajudado pelo Senhor, até que se tornou forte. E, exaltou-se o seu coração para a sua própria ruína” (2 Crônicas 26.15)”. Se isto é uma realidade incontestável, infelizmente, por conta da natureza pecaminosa inerente ao ser, refletir sobre a soberania de Deus torna-se fundamental.
Se cremos, como Paulo, que “todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus” (Romanos 8.28), por um lado, e que Deus de fato governa sobre tudo e todos (Salmos 97, 99, 22.28, etc), lembrando que na história bíblica e além desta Ele já usou outros, resta-nos ter como referências “o todo” das Escrituras e não apenas aquilo que move nossos interesses pessoais para qualquer manifestação que leve em conta a nossa realidade política.
Tanto direita quanto esquerda agregam valores que são caros a Deus. E tanto uma como a outra, ignoram outros. Uma análise honesta e desprovida de paixões, com uso desta peneira, pode ser importante para as decisões que tomamos e, antes, os registros que fazemos nas redes sociais, muitos dos quais impregnados de meras paixões humanas.
Para concluir: basta uma breve análise nas páginas de alguns líderes evangélicos, especialmente presbíteros e pastores, nas redes sociais, para verificarmos que os registros diários sobre paixões partidárias, incluindo a veneração de alguns agentes, acusações e inclusive fake News, muitos marcados por ódio visceral aos discordantes, sobrepujam em muito aqueles que falam do evangelho, onde um princípio maior, o amor, nos parâmetros indicados por Paulo, quando escreve aos Coríntios, no capítulo 13, desaconselharia muito do que se vê.
Precisamos voltar a simplicidade do evangelho e rechaçar o “outro evangelho”, fundamentado no coração corrompido do homem, largamente difundido, inclusive em alguns púlpitos.
Vivaldo S. Melo