O diabo continua dando ibope, na cultura popular e no âmbito da religiosidade. Até por isto uma lenda destaca que certa vez ele, em forma corpórea, foi encontrado num choro só, na entrada de uma cidade. Alguém perguntou: “o que aconteceu seu diabo?” E ele respondeu: “É que todos colocam a culpa de tudo em mim!”.
Claro que essa lenda vai na contramão daquilo que se fala, conceitualmente, deste personagem, visto como utópico por alguns e crido em muitas religiões, especialmente no cristianismo, como real. Neste caso, por conta de suas atividades prediletas: mentir, criar confusões, subverter a ordem, desarticular esforços de paz, etc. Alguém já disse, para reforçar a tese, que ele “ama visibilidade”.
Tal personagem está em evidencia mais do que nunca no cenário político do país. Tanto que a expressão “demonizar” nunca esteve em evidencia como nos dias atuais, a propósito das eleições de 2022.
Embora seja uma mera opinião, num campo minado, penso que uma das coisas mais infelizes do segmento evangélico, do qual faço parte, como pastor, é entrar em seu jogo, espiritualizando situações que estão longe de representar toda verdade. E como meia verdade acaba sendo uma mentira inteira, precisamos abrir os olhos.
As manifestações do rebanho protestante e de outros, contados erroneamente como tais, sobre política, muitas a partir das chamadas Fake News, contribuindo para que mentiras sejam vistas como verdades, impressionam qualquer um que tenha o mínimo de bom senso.
Não apenas as Fake News, através de seus múltiplos mecanismos - o mais recente são os chamados Deepfakes, que além da escrita, dão voz a mentiras -, colocam o diabo em evidencia, a partir dos evangélicos, quando se olha para o cenário político atual.
As manifestações de ódio oriundas de pessoas que professam Jesus Cristo como Senhor e Salvador, são estarrecedoras. Elas têm criado hostilidades até entre os domésticos da fé e tentado incutir, de maneira geral, um maniqueísmo lamentável num cenário onde o bem e o mal, na verdade, existem e coexistem em todos os lados.
O assunto é vasto, mas, numa síntese, confesso que está difícil enfrentar os dias atuais, principalmente considerando-se o tempo que ainda resta do chamado período eleitoral. Até porque, qualquer posicionamento que não leve em conta o cenário que já está estabelecido, acaba sendo alvo dos mais variados impropérios, algo que está longe dos parâmetros do evangelho de Cristo e mais próximo do jeito de ser dele, o diabo.
Quando os exageros e radicalismos nos debates tem participação de pessoas não afinadas com o evangelho, quem é cristão entende. Mas, como eles ganham força, cada vez mais, entre os que dizem crer, em Cristo, só resta orar no espírito de uma das orações paulinas, em Efésios, pela iluminação dos olhos do coração.
Urge que compreendamos, de maneira mais profunda, todas as verdades sob a ótica do Reino de Deus e não meramente aquilo que visa determinados interesses. Se não fizermos isto, o diabo continuará em evidência, a partir de nós.
Vivaldo S. Melo, Castanheira MT.
Vivaldo S. Melo, Castanheira MT.