Dona Dolores: A mulher que amava as plantas

RESUMO DA NOTÍCIA

Um pouco (fragmentos) da história de uma mulher, sob a ótica de três amigas e uma neta. Um registro para o presente e futuras gerações de Castanheira.
A vestimenta irrepreensível e a preocupação com uma vida saudável foram marcas registradas de uma mulher inteligente e sábia, afeiçoada à leitura e à pesquisa de tudo quanto pudesse contribuir para ajudar o próximo, num tempo de poucos recursos, especialmente na área de saúde. Assim foi Maria Dolores Bergamasco, conhecida por Dona Dolores.

Na busca de referências do passado sobre iniciativas pioneiras na terra que começou a ser desbravada no início dos anos 80 do século passado, a qual deu-se o nome de Castanheira, pela forte presença desta árvore amazônica em sua extensão, ela há de ser lembrada como uma das primeiras na preocupação com a cura através das plantas. 

“Minha vó era super natureba, tendo sempre uma garrafada com plantas medicinais ao alcance das mãos, para acudir os que buscavam uma solução natural para doenças”, lembra a neta Maria Bergamasco, criada por Dolores desde pequena e lembrada pelos vizinhos da linha 01, onde residiram por muitos anos, como “uma garotinha bonita e educada”. 

Religiosa, adepta do adventismo até a morte, não deixava de associar as plantas com o cuidado de Deus.  “Nos cultos, no Sítio, dirigidos pelo Seo Francisco, convidava a todos para irem a sua casa”, lembra a professora aposentada Maria Urbina, vizinha de sítio por muitos anos.

Num tempo em que o ainda povoado não tinha muitos recursos, quando ter cuidados médicos era muito difícil, até em Juína, Dona Dolores, com suas plantas medicinais e com seus bons conselhos, embasados nos livros que gostava de colecionar, coisa rara na época, teve um papel relevante na vida das pessoas. 

“Medicou muita gente com ervas e deu dicas preciosas sobre cuidados com a saúde”, lembra Maria Pereira, outra vizinha de linha 01 na época e que diz ter aprendido com ela a amar as plantas e a pesquisar sobre o tema.

Maria Urbina,  lembra que mais do que meramente disponibilizar remédios caseiros, Dona Dolares costumava ir até as pessoas, quando sabia de alguma enfermidade. “Quando sabia de uma pessoa doente, costumava oferecer ajuda, através dos remédios caseiros que ela fazia com plantas medicinais”, destaca. “Era uma pessoa fantástica, muito agradável, muito carismática”, acrescenta. 

Ilda Ribeiro Henrique, hoje encontrada com o esposo, José Costa Henrique, na Rua Mogno, se emociona quando lembra da amiga Dolores, com a qual conviveu também nos tempos de vida rural. “Só temos boas lembranças, ela e o esposo foram vizinhos especiais; dela lembro de ter sido boa conselheira e um exemplo de mulher trabalhadora e guerreira”, destacando a seguir, novamente, o seu lado sábio e do amor pelas plantas. “Plantava muitas coisas, especialmente frutas e verduras”. 

De três fontes de amizade e do amor de uma neta,  a soma de lembranças permite traçar o perfil Dona Dolores como  uma mulher "fantástica" (expressão de Maria Urbina). E referenciá-la como pioneira em áreas que só mais tarde teriam grande espaço na agenda da luta por melhor qualidade de vida, como fitoterapia, a homeopatia, o vegetarianismo, entre outras. 

A sua preocupação com o próximo reflete um lado humano afinado com o evangelho bíblico. Percebendo, por exemplo, as dificuldades de muitas mulheres gerarem seus filhos, fez-se parteira, com excelência. 

Por essas e outras, quando deixou de residir na linha 01, migrando para a zona urbana, todos reclamaram, certos da falta que ela faria, pela disposição em cuidar das pessoas, especialmente os menos favorecidos. Mulher de fé, nos faz lembrar uma expressão de Madre Tereza de Calcutá, quando disse que devemos dar o melhor de nós pelas pessoas, porque no final das contas tudo é entre nós e Deus e não entre nós e os outros. 

Breve Histórico

Maria Dolores Bergamasco (Dona Dolores), nasceu em Monte Azul, Minas Gerais, em 13/12/1930 e faleceu em 24/11/2008, em Cuiabá.  Com o esposo, Durval Bergamasco, teve dois filhos: Carlinhos Bergamasco, falecido em 2012, e Hélio Bergamasco, falecido em 1998. Além da linha 01, residiu na cidade de Castanheira, entre o Bar da Leninha e a Igreja Deus é Amor. Depois de deixar Minas Gerais e antes de se estabelecer em Castanheira (em 1984), residiu em São Paulo e em Cerejeiras, Rondônia. Deixou seis netos.