Novo Horizonte: No tempo em que todo dia era bom... (Parte II)

RESUMO DA NOTÍCIA

O segundo artigo sobre a Comunidade Novo Horizonte da série "Castanheira: Fragmentos de uma História", resgata outros momentos de "um tempo que todo dia era bom".
Quando se diz que continuamente as paisagens se transformam, uma boa referência na história de Castanheira é a Comunidade do Novo Horizonte

Depois de seu surgimento, a partir do desmembramento em vários lotes de uma área, em 1980, pertencente ao Sr. Arnaldo Hermes, e da chegada dos pioneiros Zenor Bogo e Flávio Bogo, que eram irmãos, e do Sr. Antônio Rossi, oriundos dos Estados de Santa Catarina e Paraná, um ativo vilarejo surgiu, centralizando a vida das pessoas. 

Ao reportar-se à esta época, no texto “Colonização de Mato Grosso: A Formação da Comunidade Novo Horizonte”, produzido no final de curso do Núcleo de Educação Aberta e a Distância (NEAD), Ana Nelci Rossi da Silva, Beloni Batista e Lourival Alves da Rocha quantificam os primeiros colonos pela origem: 50% eram do Paraná, 29,1% de Santa Catarina, 8,4% de Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul e 4,1% de Minas Gerais

Depois dos três pioneiros, que enfrentaram todo tipo de dificuldade e sofrimento, como ter que se revezar, a noite, numa espécie de segurança entre vizinhos, começaram a ocupar a região duas famílias em 1983, três em 1984 e entre 1986 e 1990, com as notícias de uma boa terra se espalhando, um grande fluxo migratório esteve em curso, com a chegada de brasileiros daquelas e outras regiões do país. 

Do começo ao início do esvaziamento

Para dimensionar as lutas deste início, alguns remanescentes dos primeiros colonos a pisar no solo do Novo Horizonte, relembraram, no registro histórico já mencionado, feito em 2003, os cenários comuns a muitos brasileiros que ajudaram a construir o que hoje pode ser visto como núcleos urbanos.

“O lugar era frio, morava em uma casa coberta de talbinha, parede de talba, soalho de chão, caçava cotia, alimento couve, mostarda era plantada na roça mesmo”, destaca registro literal da fala de um sul-matogrossense, cujo nome foi grafado como “Colono 1”.  Um paranaense, o “Colono 9”, destacou: “Os alimentos eram plantados e colhidos por nós mesmos, em nossa própria terra, quase não utilizava os industrializados”

Foram vários os motivos que levaram brasileiros de diversas matizes a se estabelecer no Novo Horizonte, como em toda região noroeste de Mato Grosso. Dentre eles a exploração da madeira da região, a pecuária, a agricultura e acima de tudo “mudar de situação”, como define um dos antigos moradores do lugar, que não foi além de uma comunidade rural ligada a Castanheira, pois já no início do novo século – leia-se 2000 – muitas famílias começaram a ir embora.  

A diminuição do fluxo migratório no Novo Horizonte, porém, começou no final do século passado. Depoimentos colhidos por Ana Nelsi, Beloni Batista e Lourival Pereira, indicam como fatores determinantes o fim do ciclo da madeira, a distância de Castanheira – algo em torno de 45 quilômetros -, que em 1988 já era município, a precariedade das estradas, falta de energia e dificuldades com a venda dos produtos da terra. 

A chegada de uma unidade da Empresa Rezzieri, com Serraria e Laminadora, em 1992, deu um certo alento.  “O lugar progrediu um pouco”, segundo um colono.  “Mas, o final, todos conhecem”, acrescenta. 

No campo, as culturas iniciais de produtos como arroz, feijão, milho, café e mandioca, entre outros, foram dando lugar a pecuária, em extensões maiores, incorporadas aos poucos que resolveram ficar. 

Tempo bom...

Para existir, ao longo de pelos menos duas décadas, como uma comunidade rural pujante, o Novo Horizonte teve outras marcas que fazem com que muitos, ligados a sua história, observem, num tom saudosista, que “eram felizes e não sabiam”.  Outros, que “era um tempo muito bom, que não volta mais!”. 

A pequena e bem feita igreja de madeira, no centro do vilarejo, centralizava boa parte da vida religiosa. A primeira missa aconteceu antes de sua construção, no dia 26 de setembro de 1984, na casa do Senhor Ângelo, popular Bino, com ministração do Padre Duílio. A assistência aos fiéis católicos se dava de dois em dois meses. 

Entre os jovens, o momento mágico eram as brincadeiras, feitas nas casas, onde muitas paqueras rolavam. “O maior lazer era passear um na casa do outro”, destaca “Colona 2 PR”.

E se muitos costumam referenciar apenas as Serrarias maiores entre as boas lembranças deste tempo, pelas atividades recreativas em seu entorno, as menores não podem ser esquecidas. Uma dessas entrou para a história. E como a Rezzieri, até hoje tem vestígios de sua presença.

“Claro que a Rezzieri, Victória Régia e outras serrarias, nos primórdios de Castanheira, foram importantes, a maioria implantada por pessoas do sul do país, pela força da indústria madeireira em seus Estados, graças à farta  presença das araucárias, mas a pequena empresa dos Bárbaros também marcou nossa história”,  destaca o hoje vereador e professor Lourival.

Os Bárbaros

No início do período de maior fluxo migratório, a partir de 1986, chegaria a região o casal Silvério Bárbaro e Vilma Maria Bárbaro, já falecidos, com os filhos José Martins Bárbaro e José Bento Bárbaro e os filhos destes, oriundos de Santo Antônio do Sudoeste, no Paraná. 

Trouxeram consigo o sonho comum de uma vida melhor, literalmente num Novo Horizonte, e as peças de uma pequena serraria, modelo Pica Pau, compradas no Estado sulista. 

As Serrarias, que chegaram a representar a grande força da economia castanheirense, eram classificadas de acordo com o destino de sua produção. As que abasteciam o mercado externo eram as de “exportação”; as de “consumo local” eram as que produziam para o próprio município e as de “consumo próprio” as que supriam apenas as necessidades de seu proprietário, no local da produção, sem finalidade comercial. 

A produção dos Bárbaros se encaixava em dois conceitos, pois além de suas necessidades, destinaram muito de sua produção para algumas das edificações do Novo Horizonte.

Lenira Bárbaro, esposa do saudoso José Martins Bárbaro, falecido em 2013, mãe de três filhas (Elisangela, Elizaine e Fabiana), as duas últimas nascidas em Castanheira, deu importante contribuição para a comunidade. 

Com formação no magistério (mais tarde se tornaria Pedagoga pela UFMT), amava crianças. Com essas credenciais, acabou sendo uma das primeiras professoras do Novo Horizonte, por intermediação do ex-vereador e pioneiro Antônio Rossi.

Vida Escolar

23 de março de 1986 é uma das datas históricas da Comunidade Novo Horizonte. Neste dia, mês e ano, foi criada sua primeira escola, que denominou-se Jorge Amado. Como Castanheira ainda era distrito, surgiu vinculada a Juína, para atender aos filhos dos colonos. Neste dia também a comunidade se reuniu e escolheu seu nome: Novo Horizonte

Durante seis meses, quinze alunos estudaram, pelo sistema multiseriado, em um barraco aberto na casa de Antônio Rossi, pai das duas primeiras professoras, uma delas Ana Nelci Rossi da Silva. 

Devido ao grande fluxo migratório naquele ano, o número de alunos – inicialmente quinze – triplicou, subindo para quarenta e cinco. Havia necessidade de mais professores. Dois anos depois, Lenira Bárbaro, começaria sua jornada de 11 anos na educação local.

Fragmentos

Ao término do texto “Colonização de Mato Grosso: A formação da Comunidade Novo Horizonte”, seus autores, já citados, destacam que seu conteúdo não é algo pronto e acabado.  O Castanheira News faz eco a esses pesquisadores, e até por esta compreensão o inseriu na série “Fragmentos”. 

O hoje do Novo Horizonte

A Diminuição da população do Novo Horizonte nos últimos anos não indica a diminuição de seu valor, especialmente para a economia do município de Castanheira. O que houve foi uma mudança de modelo. 

A Comunidade ainda existe como uma referência na produção de riquezas, algumas casas ainda são encontradas no local e a Escola mantém atividades, com participação do Município, do Pré ao 5º ano e do Estado, do 6º ao 9º ano

De um passado mais pulsante, restam as marcas de alguns empreendimentos, como da Serraria e Laminadora Rezzieri, da Pica Pau dos Bárbaros e uma grande saudade!