Embora não seja uma data universal entre cristãos, é inegável que o Dia de Finados, da agenda católica de celebrações, leva todos a refletirem na morte. No Cemitério Bom Jesus, na véspera e até antevéspera da data, encontramos pessoas de vários matizes religiosas, inclusive evangélicos, cuidando dos túmulos de ente queridos, porque de alguma forma estão focados no tema.
Em sua origem, os que reverenciam a data, lembram que a morte é percebida na vida cristã como passagem para outra vida, com Deus, Uno e Trino. E nisto também há unanimidade no dividido cristianismo. A propósito de tantas mortes neste ano, um dos grandes alentos, lembrados em sermões e homilias, foi o destaque de que existe vida além-túmulo num sentido eterno, sem os limites da vida presente, um deles a própria dor da ruptura que o evento proporciona. Lá, registrou João, quando exilado na ilha de Patmos, não existe choro. E toda lágrima será enxugada!
Mas, enquanto estamos por aqui, esse tempo de tantas mortes, muitas geradas por uma pandemia há muito não vista na humanidade, e especialmente o dia de hoje, terça, 02, traz à memória a lembrança de que a existência humana é extremamente frágil. Por mais que busquemos meios para retardar a morte, ela chegará um dia, de modo que no aqui e no agora precisamos, enquanto vivemos, estar preparados para o momento que aqueles que hoje são lembrados, muitos com flores e preces – no caso evangélico de gratidão - já passaram um dia.
Como escreveu um pároco, no tempo de pandemia que estamos atravessando, é impossível não pensar na morte, porque ela atingiu muitas pessoas próximas de nós, como pais e mães de família, jovens, adolescentes, crianças, sacerdotes, religiosos, pessoas indígenas, líderes de comunidades, pessoas que estavam ligadas à vida social e política. Todas essas pessoas tinham um nome, uma vida, uma história pela frente. Mas, se foram, num contexto jamais imaginado e para muitos ainda é difícil de acreditar. Mas, se foram! Como todos nós, um dia, iremos.
De tudo que se pode dizer hoje, julgo oportuno revermos os dois maiores mandamentos bíblicos que nos estimulam a amarmos a Deus, em primeiro lugar, e ao próximo como a nós mesmos. Este é o grande e eterno compromisso de quem olha a vida e a morte sob a lupa do cristianismo. Porque, como escreveu o apóstolo Paulo e cantaram Milionário e José Rico, “da vida nada se leva”. Oportuno o reforço de Renato Russo, poeta popular, que disse algo extraordinário, para o tempo que ainda temos de vida: “É preciso amar as pessoas como se não houvesse o amanhã”. Quando não fazemos isto com aqueles que vamos perdendo pelo caminho, o choro e as flores não terão sentido. A não ser como gestos de arrependimento. Quando, porém, fazemos, o momento no Cemitério é de saudade!
Vivaldo S. Melo
Vivaldo S. Melo