Zilda Calauro e as raízes do primeiro Hotel em Castanheira

RESUMO DA NOTÍCIA

Uma família mineiro-capixaba, e especialmente, sua matriarca, marca o pioneirismo na área de hotelaria em Castanheira. O distante início, com um Dormitório, foi marcado por extremas dificuldades.
Um nome não muito comum, Zilda, tem marcos históricos em Castanheira. Lembra, por exemplo, primeira referência de hotelaria na região: Zilda Calauro, que chegou em Castanheira no dia 7 de setembro de 1980, antes do município ser distrito e ser emancipado, oito anos depois, e ser administrado inicial e coincidentemente por uma “xará”, termo originário do tupi, que designa “nome igual”. 

Com os três filhos - Veracilda, Sonia e Nilson, com idades de 7, 12 e 14 anos, respectivamente -, acompanhada do esposo, João José Brito, mineiro de Ataléia, conhecido por João Baiano, deixou Alto Rio Novo, no município de Pancas, Espírito Santo, para tentar uma vida melhor, literalmente selva a dentro, no noroeste de Mato Grosso, na chamada Amazônia Mato-grossense.

“Não tinha nada!”

Daquilo que seria Castanheira, é enfática: “não tinha nada, só derrubada, não tinha nem rua”, destaca. O novo lugar, conhecido como um sub núcleo do Núcleo Juína do projeto Polo Amazônia, destinado a povoar a região, logo começou a fervilhar de gente, pelas facilidades criadas pela CODEMAT, órgão gestor do projeto, para a fixação de famílias.

Este movimento chamou a atenção da pequena mas determinada mulher, fazendo crescer lá dentro uma pergunta que todo empreendedor faz, quando pensa num projeto: “Por que não?” inquiriu, pensando num dormitório e restaurante. A construção, derrubada há pouco mais de cinco anos, ao lado da Mega Farma, tinha inicialmente seis quartos e um espaço para refeições.

Os limites de um tempo

Gente em trânsito pelo povoado, especialmente funcionários de fazendas mais distantes, como a Marapé, testemunhou uma dura rotina. “Tudo era difícil”, observa Zilda, que enumera exemplos com grande lucidez. Não existia mercado, e as compras tinham que ser feitas em Juína. Transporte seguro, só uma vez por semana, no mais era depender de carona. Luz, era a vela ou lampião. Água, de poço, tirada na mão. Os banhos eram feitos a partir de uma espécie de balde invertido, com capacidade de 20 litros. 

Fim de uma página da história...

Foram 34 anos de trabalho em dois endereços que marcaram a sua vida. Além deste primeiro, o dormitório ganharia, tempos depois, um espaço maior, na Av. 04 de Julho, ao lado da Loja Gazin, passando a ser Hotel. A estrutura permanece até os dias atuais. O atendimento foi encerrado em 2016. As portas já se abriram, de lá para cá, porém, em algumas ocasiões especiais, por continuar sendo uma boa referência de hospedagem no caso de eventos. 

Hoje com 75 anos, Zilda Calauro, que ficou viúva em 8 de junho de 2016, tem nas memórias de seu tempo de Dormitório, Hotel e Restaurante, uma forma nostálgica de passatempo. Quando instigada a falar sobre os tempos passados, especialmente aqueles do pequeno dormitório, seus olhos brilham e as informações fluem com a incrível facilidade de quem lembra de todos os cenários. 

No texto “Nos tempos do Correntão”, da edição nº 10 da Revista Innovare News, de setembro de 2016, ela destaca, além deste Posto Fiscal, onde o pai de José Albino, Marciano, conhecido por Piaui, controlava entradas e saídas de viajantes utilizando um correntão, que centenas de castanheiras ainda não tinham sido derrubadas pelo avanço da investida humana. 

O primeiro mercado teve vida curta, sendo construído pelo Sr. Jorge Martins, de Juína, no local onde hoje existe a Sorveteria Arno. Já o precursor do transporte de passageiros na modalidade “táxi” foi o Sr. Quintino, vitimado por um acidente automobilístico. 

Afirmando a importância do Dormitório-Restaurante, mais tarde Hotel Castanheira, diz lembrar com saudades que os que se deslocavam de ônibus para a região, especialmente de Cuiabá, muitos para sondar a possibilidade de ficar, tinham ali uma referência segura, “aos cuidados dos Calauros”. O João Baiano atendia e ela cuidava das refeições, almoço e janta. “Não servíamos café da manhã”.

Entre os clientes mais comuns haviam também os chamados “gatos”, nome dado aos peões empreitados por madeireiros, para as derrubadas que fomentavam o ciclo da madeira.

A vida hoje

Dos cinco netos nascidos em solo castanheirense, a pequena Patrícia não sobreviveu. Nicoli, hoje Secretária Municipal de Agricultura, filha de Sonia e do saudoso Henrique Pereira Sobrinho, e Kauana, Kleper e Douglas,  filhos de Nilson, eram até pouco tempo seus xodós. Com o nascimento de uma bisneta, a pequenina Alice, este sentimento foi ampliado.