A Palavra afirma que aqueles que viverem em Cristo serão perseguidos (2 Tm 3:12). Também que alguns sofrerão perseguição por causa da justiça (Mt 5:10) e que isto envolverá não apenas o sofrimento do corpo, mas também a difamação pessoal e moral (Mt 5:11).
Em meio à perseguição somos ensinados a guardar a Palavra de Deus (Jo 15:20) e à medida que a igreja é perseguida, o Senhor a fortalece para permanecer inabalável (Ef. 6:13). Em momentos difíceis, a mesma igreja que sofre é também aquela que se encontra em posição de dar grande testemunho de Cristo
Em Atos capítulo 8, a igreja primitiva passou por forte perseguição. Ensina a Palavra que o sofrimento era físico, emocional e espiritual. No verso 1 o autor fala que a igreja “sofria perseguição”, usando o vocábulo diogmos que indica dor física. No verso 2 lemos que a igreja “pranteava” a morte de Estêvão, do grego kopeton que significa dor na alma – um sofrimento emocional. Por fim, no verso 3 vemos que Paulo “assolava” a igreja, onde encontramos o termo elumaineto, também usado em João 10:10 para se referir à ação do diabo que veio roubar, matar e destruir, ou seja, um sofrimento espiritual.
Entretanto, em meio a essas perseguições e sofrimento, de alguma forma que não compreendemos, Deus produz valentia e perseverança nos seus filhos e abre largas portas para que Jesus se torne mais e mais conhecido.
O mesmo ocorreu em Atos 8. Em meio a todo o sofrimento – físico, emocional e espiritual – a igreja foi dispersa por toda parte (v. 1); porém, como consequência dessa dispersão, o Evangelho também se difundiu, pois proclamavam a Cristo (v. 4). Vemos que multidões se converteram (v. 6), Deus mostrou sinais e maravilhas (v. 7) e, por fim, houve grande alegria em Samaria com vidas sendo transformadas (v. 8).
Atos 8 é um texto que narra a poderosa intervenção de Deus em ambientes improváveis. Começa no verso primeiro com uma grande perseguição e termina no verso oito com uma grande alegria. Parece que esse modo de operação de Deus continua o mesmo hoje. Em meio a grandes perseguições o Senhor tem produzido também grandes alegrias. Talvez, em virtude disso, quem sai andando e chorando enquanto semeia volta sempre com alegria trazendo os frutos colhidos, pela graça do Pai. Durante um seminário em área resistente à pregação do evangelho na Ásia central, procurei uma analogia que pudesse representar as equipes missionárias naquela região.
Veio à mente a figura dos barcos usados para quebrar o gelo marítimo do Alasca, os conhecidos ice-breakers. São barcos pequenos, com motores potentes e a proa construída de aço com espessura dobrada e afiada, que funciona como um machado que bate e racha a superfície congelada à medida que o barco avança.
Após tais barcos realizarem seu trabalho, chegam os grandes navios turísticos que seguem para conhecer a linda e exótica região. Nesse momento o clima é de festa e deslumbramento, porém quebrar o gelo não foi tarefa fácil nem rápida. Olhando os ice-breakers de longe, tem-se a impressão de que estão parados em meio a enormes blocos de gelo. Observando mais de perto, porém, nota-se que o gelo tem sido quebrado, metro a metro, e os pequenos barcos se movem a frente, vagarosamente, realizando tão pesado trabalho.
Em várias partes do mundo a Igreja de Cristo enfrenta restrição para existir e, às vezes, perseguição por partilhar a fé. Em outras, a pregação do evangelho é restrita, seja por barreiras políticas, linguísticas, culturais, climáticas, religiosas ou sociais. Também em nosso país, cristãos evangélicos frequentemente experimentam pressões e críticas. O trabalho é vagaroso e tem-se a impressão de que nada novo acontecerá.
Devemos, entretanto, lembrar que após o gelo quebrado virão navios com multidões que passarão pelo caminho aberto. Nesse dia haverá deslumbramento e alegria pela bondade do Senhor que em meio ao contexto mais improvável fez algo novo acontecer.
Para vocês que andam e choram enquanto semeiam, continuem a andar, chorar e semear, pois um dia o fruto da semente estará perante o Santo Cordeiro de Deus. Guarde a sua fé enquanto anda e chora. Não perca a alegria, a mansidão, a oração e a paz. E não deixe de semear mesmo no sofrimento, pois há promessa de frutos para os que semeiam na dor. Também não dê ouvidos àqueles que dizem que o Eterno o abandonou, que a semente não frutificará, que o caminho não tem fim. Eles não sabem que o Cordeiro de Deus é também o Leão de Judá.