As imagens de Waldir dos Reis da Silva, paranaense de Diamante do Norte, pedalando uma bicicleta num percurso que chegou a 40 quilômetros para dar aulas, da professora Maria Odete ou da professora Cristina Leitner, entre alunos, numa escola tosca, com carteiras e bancos feitos de toras, serradas por motosserra, representam um tempo paradoxal na história de Castanheira, marcado por extremas dificuldades, mas intensas alegrias, no início da colonização no Vale do Seringal.
As narrativas às vezes são conflitantes, mas existem elementos comuns em todas. A começar pelo evento histórico que resultou em quatro prósperos Assentamentos, fortalecidos pela agricultura familiar, um dos sustentáculos da economia local.
O começo
O começo
No ano de 1996, chegou ao conhecimento dos outros castanheirenses, residentes na sede do município e nas linhas, informação sobre a existência de uma área de aproximadamente 36 mil hectares no município, parte alienada ao Banco do Brasil, pertencente a Construtora Enco (Engenharia e Comércio).
Em trabalho feito para a Universidade Federal de Mato Grosso, como parte da formação no Núcleo de Educação Aberta e a Distância (NEAD), Jocirema Aparecida Lopes Nascimento Serafim, Maria Izabel Perdoncini Lisandro e Sônia Sokolovicz, lembram que várias famílias se reuniram para discutir a possibilidade de ocupação.
Tiveram apoio de peso para seguir em frente, a começar pelo prefeito, Dr. Jorge Arcos e seu vice, o saudoso Arrival Gonçalves Rios.
O texto “A epopeia dos Assentamentos” da revista Innovare News, 7ª edição, de agosto de 2015, destaca que em 6 de agosto de 1996, Dr. Jorge estimulou a ocupação da área, tomada de densas matas. Ivan Justino, então vereador, foi um dos motoristas dos primeiros veículos a transportarem os primeiros moradores. Falam em 30 famílias, que se espalharam a partir do que viria a ser Primeiro Assentamento ou 1º Setor.
“Era coisa bruta, não tinha estrada e a gente aproveitava o caminho feito pelos caminhões das madeireiras”, diz um pioneiro, que pede anonimato, lembrando outro detalhe que faz parte, também, de todas as narrativas: “não era fácil aguentar o pium”, espécie de mosquito pequeno, também conhecido como “borrachudo”, portador de uma picada extremamente desconfortável.
Escolas dimensionam cenário
Escolas dimensionam cenário
É dentro desta realidade que Lourival Alves da Rocha, que já foi diretor das escolas rurais, situa, a partir da educação, como era a vida das pessoas. “As escolinhas eram de pau a pique, muitas vezes cobertas de lona, de palha de coqueiro, os bancos e carteiras feitos de madeira bruta, de torrinhas, cortados na motosserra”, destaca. Algumas construções, porém, foram levantadas com o desmonte da estrutura de escolas das linhas, que sofreram o impacto do êxodo gerado pelo surgimento dos assentamentos.
Os alunos ou percorriam longas caminhadas ou eram transportados numa Toyota, coberta de lona. As aulas começavam depois da estação das chuvas, pois o transitar era praticamente impossível, devido aos atoleiros.
As casas
Os alunos ou percorriam longas caminhadas ou eram transportados numa Toyota, coberta de lona. As aulas começavam depois da estação das chuvas, pois o transitar era praticamente impossível, devido aos atoleiros.
As casas
A maioria das residências seguia um padrão. Eram de madeira e muitas cobertas de lona. Embora já tivesse sido abolida em muitos cenários brasileiros, na região do Vale do Seringal ainda eram comum, nesta época, as privadas, que alguns costumavam chamar de “casinha”, cobertas de lona, com um buraco no chão. “Não existia isto de vaso sanitário, que foi novidade, vindo depois”, observa Lourival. A água, de poço, era puxada de balde, através de corda, por sarilho, uma espécie de manivela, lembrando um carretel de linha ou por roldona, de ferro fundido. Luz? Predominava a velha lamparina, movida a querosene, ou no máximo o lampião.
As imagens deste tempo, são muitas. O resgate de algumas visa a preservação da memória. Como não lembrar do fogão de lenha, constantemente aceso, com alimento sempre ao alcance da mão (e da boca), conservado, assim como um café de bule? Ou das caronas, para a cidade, em cima de caminhões que transportavam leite? Hoje a vida está bastante fácil, simplificada, mas talvez não tenha o mesmo encanto deste tempo dos inícios. Não importa o que diga os contrários!