Semana: Brasil perdeu pecuarista que mudou a história do boi

RESUMO DA NOTÍCIA

Criador de nelore herdou e deu continuidade a um dos mais tradicionais trabalhos de melhoramento da raça zebuína no país, há 144 anos.
No último dia 06, véspera do feriado da independência, morria, aos 89 anos, o pecuarista Paulo Lutterbach Lemgruber, figura lendária da pecuária do país. Com informações da Forbes, segue um pouco de sua história. 

A história da pecuária brasileira, um dos maiores ecossistemas de produção de carne bovina do mundo, tem personagens marcantes pelo papel que desempenharam. Na última terça-feira, 06, o país perdeu uma delas. Morreu o pecuarista Paulo Lutterbach Lemgruber, aos 89 anos. O enterro foi no dia seguinte, 07, em Carmo (RJ), município onde está localizada a fazenda São José, próximo a Petrópolis, na serra Fluminense.

A fazenda é quase um local de peregrinação para quem deseja conhecer o trabalho de Paulo e uma parte considerável do que é hoje a raça símbolo da pecuária brasileira. A outra fazenda da Lemgruber, a Santa Clara, fica em Mucuri (BA).

A construção da história do Nelore Lemgruber, como é conhecido esse criatório, se confunde com a história do nelore no Brasil. Foi o primo de Paulo, o imigrante suíço fabricante de rodas d’água Manoel Ubelhart Lemgruber, que conheceu o gado de origem indiana trancafiado em uma jaula de zoológico na Alemanha, e decidiu trazer o animal para o Brasil, em 1878.

Na época, a palavra nelore ainda não era utilizada, o nome da raça era ongole. Vieram para o Brasil o touro e um bezerro. O feito foi tão exótico para a época que também veio junto o tratador dos animais, um indiano que se recusava a deixá-los sozinhos por serem considerados sagrados em seu país de origem, a Índia.

A história, que poderia ter tomado outro rumo – Manoel Lemgruber morreu em julho de 1921 –, continuou. Está aqui a importância dos herdeiros dessa linhagem do nelore que, no caso de Paulo, agora continua com sua filha Cláudia e de uma equipe de peões especializados no manejo do rebanho.

Os animais criados pela família Lemgruber nunca foram cruzados com outros animais de fora do rebanho formado na fazenda de Carmo, uma propriedade de 1.000 hectares. Foi desse local que o gado se espalhou pelo Rio de Janeiro, ganhando fama em São Paulo e Minas Gerais e hoje em todo o país.

A fama do gado, desde o  início, era a de conferir ao rebanho características como carcaça volumosa, o que significa mais cortes de carne, e vacas de muita habilidade materna, que significa boas mães de produção de leite para engordar com folga seu bezerro. Mas uma característica por muito tempo delegada a segundo plano, a índole dócil dos animais dessa linhagem, é hoje um dos atributos mais desejados: bovinos mansos é o desejo de todo pecuarista que trabalha com bem-estar animal.

A importância de Paulo Lemgruber, no período que lhe coube dos 144 anos de trabalho de melhoramento genético da linhagem, foi promover a transição para um melhoramento baseado em um programa institucionalizado de seleção dos melhores animais. Nas últimas quatro décadas, o gado passou a ser registrado na ABCZ (Associação Brasileira de Criadores de Zebu), maior associação do mundo de raças zebuínas, e a partir de 2014, o rebanho passou a ser acompanhado pelo Geneplus (Programa Embrapa de Melhoramento de Gado de Corte), trabalho desenvolvido na unidade Gado de Corte, em Campo Grande (MS).