São Sebastião: Era uma vez...?

Apesar do clima festivo do Torneio Leiteiro, impossível ignorar que o coração do castanheirense também pulsa de preocupação.  O mandado de reintegração de posse da área conhecida como Comunidade ou Assentamento São Sebastião, expedido nesta semana pela Segunda Vara Cível Especializada em Direito Agrário, indica um possível cenário tenso nos próximos dias, por seus termos naturais e inevitáveis: multa diária de R$ 5 mil ao presidente da Associação que agrega as mais de uma centena de famílias estabelecidas no local e demais interessados, a presença de força policial, prisão aos que ainda forem encontrados no local (findo o período definido para a desocupação), a impossibilidade de se levar qualquer elemento de benfeitorias já feitas no local, etc.

A possibilidade de um desfecho como este, sempre foi ventilada ao longo dos últimos anos, entre reuniões e mais reuniões, nos interregnos de muitas idas e vindas resultantes de medidas liminares. Os imbróglios da terra em questão estavam relacionados a sua venda, de um proprietário original para terceiros, com pendências bancárias. Resolvidas essas pendências, os novos proprietários haveriam de buscar, inevitavelmente, a reintegração.

Numa trama de vários atores, independente de culpas e desculpas, contudo, um cenário positivo ali se estabeleceu, com uma produção significativa para a economia do município. Alguns dos milhares de litros de leite encaminhados para os dois Laticínios da cidade – Casterleite e Princesa Alessandra – se originam da terra ocupada. Centenas de pessoas sobrevivem de sua agricultura familiar e sempre sonharam com dias melhores. Lá no fundo, porém, nunca se afastou a possibilidade de um pesadelo.

Agora, quando reivindica-se a aplicação da lei, como medida final, há quem pergunte se ainda existe a possibilidade de um desfecho que não seja a reintegração. Como o tempo passa, e na contramão dos termos da canção “Marcas do que se foi”,nem sempre a gente caminhamos todos juntos, a velha dica da união de esforços, sem acirramento de ânimos, torna-se urgencial. Algo difícil, pois comenta-se que na própria comunidade em questão, existem disputas internas pelo poder. Mas, é preciso tentar, num processo dialogal que envolva inclusive forças que “ou não participaram do processo de crise ou  não fizeram de forma a desejar”, como lembra um leitor.

Em síntese, um drama social de proporções nunca vistas em Castanheira se avizinha. E se cabe outra citação musical, oportuno lembrar o velho Raul, em “Ouro de Tolo”: o que não se pode fazer, no momento, é sentar no trono de um apartamento esperando a morte chegar.  Ou seja, não é hora de se ficar de braços cruzados! Outra solução definitiva deve ser buscada, pacificamente, se homens de boa vontade se unirem. É difícil. Muito difícil. Mas, não impossível. Afinal, no ensejo, ainda, da sabedoria que brota da poesia musical, já cantavam os Titãs, em tempos áureos:

Quando não houver saída / Quando não houver mais solução /  Ainda há de haver saída / Nenhuma ideia vale uma vida / Quando não houver esperança  / Quando não restar nem ilusão /  Ainda há de haver esperança  / Em cada um de nós, algo de uma criança /  Enquanto houver sol, enquanto houver sol /  Ainda haverá.. /  Enquanto houver sol, enquanto houver sol!