No início da década de 80 do século passado, um êxodo muito grande de famílias residentes em Mato Grosso do Sul para os Estados de Mato Grosso e Rondônia estava em curso. Corriam notícias de terras baratas e produtivas em regiões até então pouco exploradas. Foi neste cenário mudancista que Jorge Basílio, paulista de Pirapozinho, 64 anos, e família resolveram vender uma propriedade em Sete Quedas, naquele Estado, e buscar novos horizontes.
Deslocaram-se para Pontes e Lacerda, Vila Bela,Vilhena, Ji-Paraná e finalmente Ariquemes. Questões como a malária e grilagem de terras fizeram com que a peregrinação se reiniciasse, no sentido inverso. E foi assim que 4 dos 9 irmãos chegaram a Castanheira, no início de 1985.
À área comprada deram o nome de Vitória Régia, por sugestão da matriarca da família, Satoko Tanaka Basílio, que atribuía ao termo um valor emblemático: era uma planta que se espalhava. Eles almejavam ampliar os recursos que tinham. A sábia senhora, que vera da Terra do Sol Nascente aos 4 anos de idade e constituiria fampilia com o mineiro José Basílio, estava certa.
Três décadas depois os irmãos Gricério Basílio, popular Nenê; Vanderlei Basílio, o Teco; Jânio Massato Basílio e Jorge Basílio, após um início bastante difícil em Castanheira, trabalhando dia e noite, conseguiram consolidar um patrimônio que compreende, hoje, além da propriedade matriz, que transformou-se em pródiga produtora de gado da raça Senepol, as fazendas Coroado, Coroadinho, Pérola, São Leopoldo, Cidade Morena e Mariana, nos municípios de Castanheira, Juína e Aripuanã e outros empreendimentos.
O começo desta história de sucesso , porém, teve relação direta com a Serraria Vitória Régia, em Castanheira, que chegou a empregar, em seu auge, 180 funcionários na sede e outros 30 nas regiões de desmatamento, com mão de obra empregada nos serviços de serraria, laminadora e beneficiamento. O processo de extração começou em 1985, na propriedade da família. Somente no ano seguinte a empresa foi montada. A vila de 40 casas, nas imediações onde hoje se situa o Estádio Municipal, só era superada pelo conjunto de residências da Rezzieri. “Produzíamos mogno em alta escala, era o pau que rolava”, destaca Jorge Basílio, lembrando que os mercados compradores exponenciais eram São Paulo, Minas e Santa Catarina.
A união dos quatro irmãos foi decisiva para o avanço dos negócios. Perguntado sobre o segredo desta unidade, já que comumente se diz negócio de família não prospera exatamente pelos conflitos relacionais, Jorge cita a capacidade de cada um de respeitar as diferenças. “Não é fácil conviver, daí a importância de respeitarmos uns aos outros”, diz.
Esses laços fortes, contudo, não impediriam o fim dos negócios no ramo da madeira pelo menos em Castanheira, uma vez que ainda possuem serrarias em Juína e Japorã e um depósito de madeiras em Juara. Sobre as razões da a entender que elas se restringiram ao campo político. Teria faltado incentivo a uma empresa que gerava emprego e renda.
Na expectativa de contribuir com o progresso de Castanheira, Jorge Basílio candidatou-se a prefeito da cidade em 1988, tendo perdido para Zilda Maria por uma diferença de 281 votos. Devido a sua história de sucesso há quem lamente em Castanheira por sua abdicação à militância política. Até por este carinho popular e por manter negócios no município, Jorge Basílio não hesita em opinar sobre seu momento e futuro. Indagado sobre o que sugeriria para impulsionar o progresso da região é categórico: “Acima de tudo Castanheira precisa de mais empresas que gerem emprego e renda, além de projetos voltados para o fortalecimento da bacia leiteira e outras alternativas, visando a diversificação na produção”.
Homem simples, que se mistura com peões quando está em alguma das fazendas, Jorge Basílio desfruta com os irmãos de grande veneração de parte dos funcionários. É o caso de José Roberto Pereira, pai de Fabiano, Adriano e Patrícia, há 28 anos ligado aos irmãos Basílios e residente numa das casas que sobraram dos tempos da Vitória Régia. Deles diz, com emoção, serem mais do que patrões. “São grandes amigos”, destaca José, que deixou o Paraná, juntamente com a esposa Maria Pereira Tavares, para estabelecer-se em Castanheira a convite deles. Não se arrepende e agradece a Deus todos os dias pela Vitória Régia ter existido em sua história.
CRONOLOGIA
CRONOLOGIA
1950 – Nascia em Pirapozinho, São Paulo, Jorge Basílio, um dos 4 Basílios.
1984 – Vendem um Sítio em Sete Quedas, MS, empreendendo viagem rumo ao “norte”.
1986 – Montam a Serraria Vitória Régia em Castanheira.
1994 – Fim do empreendimento madeireiro em Castanheira por falta de incentivo e pelo avanço do setor da pecuária.
2015 – Seis Fazendas de criação de gado, duas Serrarias e Depósitos de Madeira comprovam uma história de sucesso.