Uma leitura propícia para esses dias, marcados pelo caos, criado, entre outras coisas, pela COVID 19, é o livro bíblico de Jeremias, especialmente o capítulo 29. Embora o povo de Israel, à época, não enfrentasse uma pandemia, vivia tempos confusos, exilado, e não conseguia assimilar o impacto daquela realidade. Alguns paralelos são possíveis. Destaco dois: a perda de muitas vidas preciosas e a privação da liberdade.
Neste cenário, aparecem os pregadores, os profetas da época, com mensagens que criavam falsas esperanças, uma delas a de que eles, os cativos, retornariam em breve para Jerusalém. E olha que Deus havia dado algumas dicas, por meio de Jeremias, de que o tempo seria longo, quando naquilo que poderíamos chamar de “um projeto para dias de caos” havia orientado, entre outras coisas, a plantarem pomares, pressupondo um longo tempo, uma vez que as frutas mais visadas naqueles tempos demoravam anos para terem frutos. Talvez de lá venha o ditado “quem planta tamareiras não colhe tâmaras”, porque um pé de tâmaras levava 80 anos para produzir. Neste caso, foram 70 anos de cativeiro.
Quem circula pelas redes sociais recebe diariamente dezenas, se não mais, de textos, dos profetas atuais, com revelações e palavras que parecem fluir de seus desejos, e não da realidade. O “já está passando”, por exemplo, é muito comum. Embora não devamos ser céticos, é preciso ter responsabilidade ao pensar no momento. Daí, a relevância da leitura sugerida. O “não deis ouvidos aos vossos sonhadores, que sempre sonham segundo o vosso desejo” é um alerta pertinente para os nossos dias. A ênfase do capítulo 29, versículo 9, deve estar diante de nossos olhos: “Porque falsamente vos profetizam eles em meu nome”.
Pela intensidade da dor e talvez por medo, muitos há, no momento, que correm atrás de mensageiros que “em nome de Jesus” difundem, diariamente, mensagens que alguém já denominou de “placebos”. Como diz o Reverendo Samuel Vieira, de Anápolis, GO, temos que tomar cuidado ao ouvirmos pessoas que dão respostas em nome de Deus, sobre o momento que vivemos, quando, na verdade, Deus não se pronunciou.
Talvez a postura mais interessante do momento seja uma busca silenciosa, em oração, pela compreensão do que Deus tem a nos ensinar com este cenário de caos. Se cremos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, por mais que o momento seja de muitas perguntas, deve prevalecer a fé em Sua soberania. Muito se ouve que o vírus pode ser uma forma de Deus mostrar seu descontentamento com os rumos da humanidade, que se afasta cada vez mais dEle. Que este afastamento é real, não se discute. E a tendência, do ponto de vista escatológico, é se acentuar. Mas, pode ser que estejamos vivendo mais um momento da história em que Deus pune o seu próprio povo pelos desvios lamentáveis que se vê, dentro de sua própria Igreja, com práticas abomináveis sendo toleradas, travestidas de espiritualidade, referendadas “em nome de Jesus!”.
Vivaldo S. Melo
Vivaldo S. Melo