Em tempos tão estranhos, onde as tentativas de perverter a verdade são impressionantes, enganando até “os eleitos” (os cristão entendem o sentido do termo), não fosse uma matéria de um dos mais conceituados jornais do pais, o Estado de São Paulo, uma enorme distorção permaneceria oculta, para continuar beneficiando políticos vinculados ao chamado centrão, defensores do sórdido “orçamento secreto”.
Um corte recente no programa Farmácia popular, da ordem de 1.2 bilhão, no orçamento de 2023, com recursos canalizados para o tal “orçamento”, para turbinar campanhas eleitorais em curso, já estava definido. Com a repercussão, trabalha-se nos bastidores por um “remendo”, diante do estrago que a medida pode gerar.
Apesar de já estar em curso a famosa estratégia de Adão e Eva, buscando-se culpados pela infeliz estratégia, o mal já está feito e só confirma o que todo cidadão do bem já sabe: coisas como centrão, orçamento secreto, dezenas de anos de sigilo para questões envolvendo políticos, etc., mostram que estamos doentes e que costumamos focar em coisas periféricas em épocas eleitorais, ignorando fundamentos.
No geral, uma reforma política ampla se impõe como uma das grandes necessidades do país, pois se isto não for feito, daqui décadas e décadas, nossos netos, bisnetos e os que vierem após eles estarão reproduzindo as mesmas discussões, as mesmas paranoias e quem sabe, se engajados na política, os mesmos vícios ou “pecados”.
Como muitos são leigos em relação a política e só participam dos processos periféricos, como simplesmente votar e as vezes por razões perigosas como meras afinidades, recebimento de benesses ou até culto a personalidades, algumas questões precisam ser levadas para o campo dos debates, por pessoas que enxergam além dos meros interesses corporativos e que estejam com os espíritos desarmados, num exercício civilizado de cidadania, num cenário onde pelo menos elementos como os dois, já citados, sejam rechaçados.
Para compreensão
Para compreensão
Centrão é um grupo suprapartidário que nos últimos anos domina o cenário da política. Mesmo postulantes ao engajamento político, via mandato, que costumam demonizar suas táticas – e não estão errados! – acabam sendo seduzidos por ele quando no poder. Mudam o discurso com a justificativa da ingovernabilidade, o que não é, fundamentalmente, uma mentira, pois os que estão dentro por questão de “sobrevivência”, viram reféns e os que estão fora, em tempos de fake News, guerreiam diuturnamente contra um poder só menor que o de Deus (graças a Deus!).
Orçamento secreto é parte de um esquema que pode ser adjetivado de várias formas. Pensemos nele como perverso, por prestigiar determinados atores do processo político – leia-se deputados e senadores e os apadrinhados desses em níveis regionais e municipais – com verbas especiais para uso em seus currais eleitorais e, em muitos casos, para benefícios próprios. É o maior esquema de corrupção institucionalizado da história.
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Voltemos ao programa Farmácia Popular, que já foi grandioso neste país. No orçamento de 2023 o governo federal cortou quase 60% da verba destinada a ele, que fornece remédios gratuitos para diabetes, asma, hipertensão, dislipidemia, rinite, doença de Parkinson, osteoporose, glaucoma, anticoncepção, além de fraldas geriátricas, para inflar o orçamento secreto.
Ou seja, numa linguagem política, essas despesas foram reduzidas para incorporar as emendas majoritariamente da turma do centrão, que usa os recursos – quando usa – especialmente para a compra de tratores, patrols, etc. Não se discute o mérito deste uso, mas a leitura que se faz da vida, como um todo. Quando votos, na forma de máquinas e outros “benefícios”, especialmente em tempos de eleições, é mais importante do que a vida, algo está errado. Muito errado!
Vivaldo S. Melo
Vivaldo S. Melo