Pela segunda vez, em menos de dois anos, o recinto da Câmara Municipal de Castanheira recebeu grande público. No primeiro, o objetivo era pressionar para que um dos edis não chegasse a presidência. Nesta segunda, 09, um vídeo que circulou nas redes sociais nos últimos dias, motivou o novo “ajuntamento”.
A partir das imagens veiculadas nas redes sociais, comentários surgiram, destacando que uma empresa areeira da cidade estaria sujando as águas do Rio 7, numa região próxima a estação coletora. A matéria, transformada em encaminhamento de pedido de averiguação por órgão competente, foi aprovada por unanimidade.
A questão, num período eleitoral, causando estranheza para alguns, na verdade reflete um problema comum, com maiores ou menores consequências, na maioria das cidades brasileiras cujo abastecimento se dá por meio de rios. "Quase impossível encontrar águas de rios transparentes nos dias atuais", destaca um texto que circulou nas redes sociais no mesmo dia, a propósito do "verde" das águas do Rio Pinheiros, em São Paulo.
“Talvez o grande problema não seja o que é visível, mas a contaminação invisível dos rios”, diz o biólogo e jornalista Gentil Vasconcelos, ouvido pelo Castanheira News.
Estudos de conhecimento público indicam que além do que salta aos olhos, existe uma forma silenciosa e invisível de perigo nas águas consumidas em muitos municípios, que é a contaminação química, causada por agrotóxicos, microplásticos, produtos farmacêuticos e outros tipos contaminantes.
Embora esses problemas sejam típicos das grandes cidades, o que exclui Castanheira, os tais “olhos abertos” dos que fiscalizam precisam estar atentos a outros problemas ambientais, um deles a persistente devastação que alguns fazem das reservas naturais, sem observar os critérios mínimos estabelecidos pela legislação. O resultado mais comum é o assoreamento dos rios.
Embora muitos contestem que o desmatamento desmedido seja responsável pela lenta morte dos rios, inclusive a partir das nascentes, talvez a mobilização desta segunda indique a necessidade de um amplo debate, sem partidarismos, sobre o tema, hoje um dos mais pautados. Em Juína, por exemplo, o desabastecimento em curso, além de ser reflexo da longa estiagem do momento, tem relação com a questão ambiental.
Tanto em Juína como em Castanheira projetos relevantes de recuperação das nascentes – uma das necessidades emergentes – estão em curso, por meio das duas administrações e parceiros como o IFMT.
Para alguns leitores, se critérios mais rígidos forem observados, o foco de responsáveis certamente seria ampliado. Uma das medidas sugeridas, no caso da retirada de areia dos leitos de rios que abastecem os municípios, seria permitir a ação apenas na contramão do movimento das águas. Há quem, de forma mais contundente, sugira que neste caso específico a ação seja proibida de forma geral.
Em meio as discussões fomentadas pelo vídeo mencionado, a empresa visada nas manifestações, algumas com certo teor de violência, possui documentação em dia. Para evitar este tipo de enfrentamento, que dá margem a posicionamentos extremados, a questão sobre o “modus operandi” de todas deveria ser colocada em pauta, mas de forma civilizada e coerente, sem julgamentos precipitados, inclusive em relação aos atuais legisladores.