Pedra filosofal, elixir da imortalidade, existem diversas lendas com "itens místicos que prometem proporcionar a vida eterna". Mas, na cultura chinesa, esse objetivo poderia ser alcançado com um produto muito mais simples: o pêssego.
A fruta, que tem origem no país asiático, já foi item principal de banquetes de imperadores e suas esposas. Na mitologia, os imortais esperavam cerca de 6 mil anos para se reunirem para a refeição, conta Simone Rodrigues da Silva, pesquisadora do Departamento de Produção Vegetal da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo (Esalq/USP).
Ainda hoje, a China é o maior produtor da fruta, com cerca de 15 milhões de toneladas colhidas em 2020. O Brasil ocupa a 15° posição no ranking, com 201,28 mil toneladas produzidas no mesmo período, voltadas, basicamente, para o consumo interno.
Banquete dos deuses
Por muitos anos, os cientistas pensaram que o pêssego era originário da Pérsia, por isso o seu nome científico é Prunus persica. Na realidade, ele apenas foi difundido pelo mundo através dos persas, que eram grandes comerciantes. Sua origem é, na verdade, chinesa. É naquele país que ele nasce naturalmente.
Foi lá também que a fruta ganhou a fama de ser o segredo para a imortalidade.
Na China, são conhecidas três divindades estelares, que são: a felicidade, a prosperidade e a longevidade, narra a pesquisadora da Esalq/USP.
“É a longevidade que surge associada ao pessegueiro. É comentado que a divindade da longevidade segura uma bengala - provavelmente feita da madeira do pessegueiro - e também transporta uma cabaça, que seria um lugar privilegiado, de onde sairia a fabricação da pílula da imortalidade”, explica.
Por isso a mitologia chinesa diz que “eram consumidos pêssegos da imortalidade”, que eram ingeridos pelos imortais porque proporcionariam longevidade a todos que comessem a fruta.
Crenças à parte, a ciência aponta que o pêssego é rico em vitaminas e substâncias antioxidantes, diz Maria Bassols da Embrapa, destacando que ele ajuda a prevenir doenças crônicas e degenerativas, como a pressão alta.
De acordo com Maria, existem estudos que demonstram que uma dieta que inclua pêssego pode, inclusive, prevenir alguns tipos de câncer. O produto também auxilia o intestino a funcionar bem por causa das fibras presentes.
Finge de morto
O pessegueiro chegou ao Brasil pelas mãos de Martin Afonso de Souza em 1532, comandante português da primeira expedição colonizadora enviada ao Brasil.
A planta foi trazida da Ilha da Madeira diretamente para a capitania de São Vicente, local em que Martin era donatário e que é o atual estado de São Paulo.
Hoje, o estado é o segundo maior produtor do país, com 33.580 toneladas, atrás do Rio Grande do Sul, que colhe 129.608 toneladas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com dados de 2020.
Apesar de cultivada no Brasil, a fruta se dá melhor em climas frios. O calor do país, inclusive, deixa o pêssego mais propício a desenvolver doenças, necessitando de mais cultivares resistentes, ou seja, precisam de mais melhoramento genético.
A importância do frio é porque, com ele, o pessegueiro entra em período semelhante ao de dormência, ou seja, perde as folhas. Essa fase é fundamental para ele, mais tarde, florescer adequadamente, diz Maria Bassols da Embrapa Clima Temperado.
Com Vivian Souza, do G1