Quase 24 horas após o mais recente acidente a ceifar uma vida sobre a ponte do Rio Perdido, na saída de Juína, logo após o Parque de Exposições daquela cidade, os sinais da tragédia, que culminou com a morte de Luzia Ferreira Rios, 73, moradora de Castanheira, podem ser vistos nos dois lados da pista.
O cenário ainda chama atenção, pois muitos param. E na medida que se aproximam, cada um tem uma história para contar. Por lá já morreram muitos. Um motoqueiro, acompanhado da esposa, fala de um cidadão conhecido por Negão. Outro fala de um motoqueiro amigo. E assim por diante. Às narrativas do fatídico se somam aos episódios de “quase morte”. Um caminhoneiro, por exemplo, se lembra do dia em que temeu por seu fim.
Da soma das conversas dá até para nominar a estrutura, estreitada nas laterais por duas muretas, como ponte da morte. Além deste detalhe, indicado por alguns como um elemento causador, uma vez que na ponte do Rio das Pedras, no mesmo trecho entre Juína e Castanheira, elas não existem e não se contabiliza a estatística a incômoda estatística, há quem lembre a presença de muitos animais na região, especialmente capivaras, sem qualquer indicação de perigo.
Independente dos vários olhares, a morte de Luzia e sete meses antes, em 30 de outubro de 2021, de Daniel Borges dos Santos, duas pessoas muito presentes no cotidiano castanheirense, endossa um coro de apelo às autoridades por alguma providência e faz lembrar o grito histórico de Bob Dylan, num dos clássicos do cancioneiro popular: “Quantas mortes ainda serão necessárias para se perceber” que muitas pessoas queridas já morreram?
Os curiosos que neste domingo param no local, exercendo o direito da cidadania, indicam alternativas. No geral, muitos são pela retirada das duas muretas, por estreitarem a pista. Um deles, ouvido pelo Castanheira News, argumenta que quebras molas, antes da ponte, no sentido Juína-Castanheira, ajudaria. Todos destacam a ausência de sinalização adequada. E todos, também, destacam que apesar de todos os cuidados, tem o mistério da hora final de cada um. E, neste sentido, só resta a prece.
Que o triste lamento de Erotides Nunes Rios, contudo, registrado por alguns sites do noroeste de Mato Grosso, e a “ainda dor” da família Borges, encontrem ressonância no coração daqueles que tem o poder de decidir, inclusive, neste caso, pela vida e pela morte, naquilo que o homem pode fazer, que são as autoridades. Como tem coisas que Deus não faz, já passou o tempo de se fazer algo para diminuir as perdas de vida no entorno da ponte de um Rio que, ironicamente, leva o nome de Rio Perdido.