Novo Horizonte: No tempo em que todo dia era bom! (Parte I)

RESUMO DA NOTÍCIA

Do tempo dos pioneiros ao fervor da Rezzieri. Um pouco da história da Comunidade Novo Horizonte.
Num município em que o termo “Comunidade” é bastante forte, lembrando grupos humanos que, na zona rural, se unem em determinada região em torno de objetivos comuns, a de Novo Horizonte, a 48 quilômetros de Castanheira, tem um forte impacto na história.

O pequeno povoado, que ainda preserva marcas do grande empreendimento que movimentou o local, a unidade da Rezzieri – Serraria e Laminadora – representa uma região quase tão antiga quanto a sede do município, pois teve o desmembramento em lotes no ano de 1980, a partir da área de 2.499.978.9 hectares pertencente ao saudoso Arnaldo Hermes.

Qualquer construção da história “do” ou “da” Novo Horizonte, dependendo do conceito de povoado ou comunidade, indica dois momentos importantes. 

Os pioneiros

Os pioneiros chegaram por lá em 1980. Em trabalho de pesquisa, Ana Nelci Rossi da Silva, Beloni Batista e Lourival Alves da Rocha destacam os nomes dos irmãos Zenor Bogo e Flávio Bogo e o Sr. Antônio Rossi, que vieram dos Estados de Santa Catarina e Paraná, deixando para trás suas famílias, mas “trazendo o sonho de aumentar suas terras e trabalhar na agricultura, que era o que faziam no sul”.

Segundo Ana Nelci,  Beloni e Lourival, esses pioneiros enfrentaram todo tipo de dificuldades e sofrimento, inclusive doenças. Mas, persistiram. Em 1983 tiveram a alegria de ver chegando a região outras duas famílias, em 1984 mais três e em 1985 e 1986 várias outras atraídas pela venda de lotes, facilitadas pela CODEMAT. 

Rezzieri

Outro capítulo importante do Novo Horizonte se deu em 1992. Neste ano, Elizeu Rezzieri, um dos grandes impulsionadores do desenvolvimento do então distrito de Castanheira, designou um de seus funcionários mais próximos para construir uma filial de seu grande empreendimento, a Madeireira, com serraria e laminadora.

Por uma coisa do destino, novamente um Estado do Sul se destaca, pois o escolhido foi Gilson Nenevê, natural de Laranjeira do Sul, Paraná, que chegou na década de 80, impulsionado pela mesma visão dos outros pioneiros. Do trabalho de suas mãos surgiram duas Serrarias e uma Laminadora, além de duas colônias de casas. 

Pelos depoimentos, pode se dizer que começava o período mais alegre e festivo do Novo Horizonte, pois a Rezzieri, ao construir seus núcleos habitacionais para funcionários, estimulava interações permanentes. 

“Trabalhávamos duro ao longo da semana, mas nos finais da semana, havia muita recreação, principalmente atividades esportivas”, lembra Rose Alves, filha de José Pereira Alves, conhecido como “Zé Capeta”, que trabalhava como motoserrista.

“Desde os 11 anos trabalhei na empresa, e nunca tive problema com a guilhotina, uma das ferramentas mais perigosas da área de serragem”, destaca. Em Novo Horizonte trabalhava na laminadora. Como nas serrarias, o trabalho era ininterrupto, em turnos. 

Tempos felizes

Na medida em que os antigos moradores daquela comunidade começam a falar, percebe-se que foi um tempo inesquecível. 

Além das atividades esportivas, nos finais de semana, o Mini Mercado de Genésio James e Marizete Rodrigues da Costa, referenciado mais como "Bar do Genésio", era uma espécie de “point” dos moradores. Outro sucesso era as festas da Comunidade, que atraia gente de várias propriedades, especialmente da Fazenda Continental, que ficava em terras juinenses. 

Como referência de fé, uma Igreja, muito bem feita, com duas janelas e uma grande porta na parte frontal, com madeira da melhor qualidade e acabamento de primeira, até hoje está nas melhores lembranças dos novo-horizontinos. 

A primeira missa, expressão da fé então predominante, foi celebrada pelo Pe. Duilio, no dia 26 de dezembro de 1984, em tempo anterior ao templo, na casa do Sr. Ângelo, popular Bino. 

Gilson Nenevê

Depois dos pioneiros, um nome que sempre será lembrado no Novo Horizonte é o de Gilson Nenevê, construtor das instalações e gerente da unidade da Rezzieri. “Ele e dona Clair eram exemplos de cuidado e carinho”, destaca Rose Alves. 

“Meu pai, o tempo que morou lá, procurou sempre ajudar as pessoas, na medida do possível, e cuidou com muito carinho do empreendimento do Seo Elizeu”, diz Luana Nenevê, referindo-se a Gilson, uma das vítimas da Covid lamentadas pela comunidade, pelas marcas que deixou, inclusive no Novo Horizonte.

Declínio

No trabalho "Colonização de Mato Grosso: a formação da Comunidade Novo Horizonte", os autores, já citados, Ana Nelci,  Beloni e Lourival, lembram que entre 1991 e 1995 o fluxo migratório começou a diminuir em Novo Horizonte. Entre os fatores, contribuíram a distância do já município de Castanheira, emancipado em 1988, a precariedade das estradas e a falta de energia elétrica. 

Neste ínterim, a instalação da Rezzieri, já citada, no ano de 1992, representou um sinal de esperança. Entre 1996 e 2002, entretanto, o ciclo da madeira começou a entrar em declínio. A empresa fechou em 2002, agravando desta forma a realidade local. A maioria das pessoas foi embora.