Quando um fato incomum se estabelece no comum do cotidiano de uma pequena cidade, especialmente em tempos de redes sociais, versões, opiniões e histórias se multiplicam.
A morte trágica de Gelson Ferreira da Silva, o Gelsão, no último sábado, 10, em seu trike - uma espécie de Asa Delta Motorizada – é o assunto dominante das últimas horas em Castanheira.
Além das centenas de manifestações, especialmente de saudade, como a de um amigo observando que a partir de agora o céu de Castanheira não será mais o mesmo, pois o agora adulto “menino que sonhava em voar” costumava quebrar o silêncio de suas tardes, não poucas vezes, com seus voos, chama a atenção alguns depoimentos de pessoas que teriam percebido alguns sinais do trágico evento.
Sonhos
Embora os chamados sonhos com tragédias, como acidentes, sejam vistos por especialistas como expressões de realidades vivenciais quase sempre positivas, como a ruptura com determinadas atividades, o fim de algumas situações negativas, etc., os mesmos especialistas costumam diferenciá-los de premonição. Dos estudos sobre o tema, surge o conceito de sonhos premonitórios, que são aqueles relacionados a situações que acabam acontecendo.
Uma funcionária pública de Castanheira, que prefere o anonimato, pode ter passado pela experiência, mesmo sem conhecer a complexidade do assunto. Com a repetição do sonho, onde via algo caindo do céu, como se fosse uma aeronave, sua irmã lembrou de Gelson e chegou a dizer para ela ligar para o empresário madeireiro.
Ruídos no motor
Um conceituado mecânico da cidade, que estava há poucos quilômetros do local do acidente, na tarde do último sábado, ouviu barulhos no motor, quando Gelsão provavelmente fazia o aquecimento, algo só captado por quem lida com veículos no dia a dia.
Ao perceber que alguma coisa poderia estar errada com a aeronave de Gelson, ele foi a procura do celular, no carro, para alertá-lo, mas o aparelho tinha ficado em casa. Só depois soube que o Trike tinha caído, matando Gelsão e uma passageira, que teria pedido para voar, identificada como a juinense Bernadete Cardoso.
Outra lembrança
Para os mais supersticiosos, não faltou a lembrança de que a aeronave de Gelsão já tinha protagonizado outra tragédia, em Tapurah, na noite de 04 de novembro de 2013, quando duas pessoas morreram numa queda, em forma de parafuso, numa fazenda da região. Gelsão, na época, não estava naquela cidade.
O que importa
Como o acidente do último sábado teve poucas testemunhas, sabendo-se apenas que Gerson tentou impulsionar seu trike a partir do começo da pista da Av. Carolina Rezzieri, algo que vinha fazendo nos últimos dias, restam histórias e mais histórias sobre sua paixão em voar.
Em depoimento a Revista Innovare News, em agosto de 2015, ele destacou que quando criança costumava deitar-se na grama, para contemplar o voo dos pássaros. “Morria de inveja!”, observou, entre risos.
Com este desejo em mente, chegou a iniciar a construção de seu próprio avião. O projeto, contudo, foi abortado diante das lágrimas de sua mãe, desesperada com a possibilidade do filho se dar mal.
Como o trike, segundo entendidos, é um dos veículos humanos que imita o voo dos pássaros, o sonho de ter o seu nunca foi deixado de lado. “Corri atrás, até conseguir”, disse num dos registros deixados de fora, na construção do texto “Nascido para Voar!”.
Num de seus voos recentes, registrado por um acompanhante, e postado nas últimas horas nas redes sociais, é possível ouvir Gelsão repetir algo que vai marcar a sua história, para sempre: “É muito bom fazer o que se gosta!”
Imagens: Prof. Jandir, Rádio Web Cast
Imagens: Prof. Jandir, Rádio Web Cast