A morte do ator Paulo Gustavo, 42, na noite desta terça-feira, 04, com sequelas da COVID 19, depois de 53 dias internado num hospital do Rio de Janeiro, tem sido assunto em todas as pautas jornalísticas neste período.
Além de seu quadro clínico, todo o entorno de sua vida esteve em destaque, com prevalência, acima de tudo, de textos sobre o seu trabalho como artista, com as análises que cada grupo humano faz especialmente das expressões culturais, até com os pressupostos da fé cristã, que definem comportamento e visão de mundo.
À parte de todas as polêmicas que esse e outros assuntos podem suscitar nos dias atuais, quando se trata de cristianismo, por exemplo, era de se esperar que todos lembrassem dos ensinos sobre misericórdia e os fundamentos do amor, sob a ótica de sua grande referência de fé, Jesus Cristo, enquanto o ator sofria.
Como esta forma de religiosidade – o cristianismo - nunca esteve tão fragmentada como nos dias atuais - nos campos da teologia e eclesiologia - com “o nome de Jesus” sendo usado para referendar de heresias a bizarrices, a morte do ator, conceituado por muitos críticos como o maior humorista do país nos últimos tempos, fornece um bom exemplo.
Uma leitura coerente do evangelho permite um conceito geral de que toda morte, seja de homem, mulher, de hétero, de homo, de branco, de negro, de rico, de pobre, de famoso e de anônimo, de teísta ou ateu, como lembra em texto pertinente, o Reverendo Rodrigo G. da Silva, deve ser lamentada.
No caso da morte do ator, não apenas o evento da morte, mas o desejo de vê-la acontecer, chegou a ser alvo “de orações” da parte de um segmento evangélico, com textos “sobre” correndo em vários WhatsApp”s, país afora.
O mais conhecido deles, do pastor José Olímpio, de uma grande denominação pentecostal, registrava o desejo de morte: “Esse é o ator Paulo Gustavo, que alguns estão pedindo oração e reza. E você vai orar ou rezar? Eu oro para que o dono dele o leve para junto de si”.
Além de indicar uma postura que não encontra ressonância nos evangelhos, o pastor em menção deixa claro sua convicção da destinação final do ator. Na perspectiva da maioria dos cristãos, céu ou inferno são destinos finais do homem. Pelo conteúdo, seria o inferno.
Ora, se na mesma leitura do evangelho, salvação é uma obra de graça, não havendo mérito na dádiva, ninguém sabe se em algum momento da vida o homem, conceituado como pecador, responderá ou não ao que ouviu das boas novas do evangelho. Daí o apelo evangelístico para que se pregue, em tempo e fora do tempo. “Se cremos nisto, o arrependimento, na última hora, não muda o destino da alma?”, destaca um teólogo.
O assunto é vasto. Nem todos os compêndios teológicos conseguiram esgotá-lo. Mas, a necessidade de os cristãos demonstrarem misericórdia e amor para com todos (até os inimigos), não justifica esta postura de ódio.
É claro que o pensar de Paulo Gustavo, enquanto conseguiu se manifestar, era conflitivo em relação a muitos aspectos da ética e da moral cristã. A discussão, aqui, não é essa. As discordâncias, contudo, nunca podem anular, da parte de qualquer cristão, o imperativo de fazer o bem, sem olhar a quem. No contexto de seu sofrimento, era imperativo orar pelo desejo de cura e outros, que expressem o querer de Deus, independente de suas convicções pessoais. O segundo maior mandamento bíblico aponta nesta direção.
Se comumente temos ouvido a expressão “tempos sombrios”, em conexão apenas com os que negam ou não levam Deus a sério, ela é perfeitamente aplicável, infelizmente e também, ao que se vê entre muitos que usam o nome de Deus, em milhares de templos, para justificar o que é tão reprovável aos olhos de Deus quanto a práticas que eles condenam.
Nada novo, contudo, como diria Salomão. Paulo em seu tempo já falava do avanço do “outro evangelho” entre os cristãos, tendo o poder de desviar da verdade até os chamados “eleitos”. Oremos por todos, principalmente para que cheguem ao conhecimento da verdade. Que liberta!
Vivaldo S. Melo
Vivaldo S. Melo