Com 64 anos de idade, completados no último dia 10, acredito que posso compartilhar algumas memórias no campo da fé, não para qualquer tipo de glória pessoal, até porque desde a adolescência, quando já trabalhava no Rádio, sempre procurei viver respaldado no espírito do Salmo 131.1: “não ando à procura de grandes coisas, nem de coisas maravilhosas demais para mim”.
Cristão convicto desde a infância, sempre aprendi a viver para Cristo, movido pela visão paulina segundo a qual “se vivemos, para Ele vivemos, se morremos, para Ele morremos”. E compreendi que o ministério que Ele me daria iria na contramão de algumas coisas. Pastoreando em cidades pequenas, não poucas vezes ouvi “você tem que pastorear em cidades maiores, igrejas maiores, etc.” Agradecia a observação mas sempre tinha convicção de que meu ministério era outro e com desdobramento maior fora da Igreja.
Deus sempre foi muito bom para comigo, muito mais do que eu pudesse merecer. Não poucas vezes me surpreendeu e quase sempre na prorrogação do chamado jogo da vida. Daí, o desejo de selecionar alguns textos, numa série do hoje para o ontem, contrariando a lógica de muitas narrativas. Segue o primeiro episódio.
“Vocês não andarão a pé!”
Desde há muito tempo a filha, Beatriz Taina Monteiro Melo, começou a revelar que seu desejo de futuro – um futuro que chegou – era fazer a Faculdade de Medicina Veterinária. Sempre tentamos desconversar, sugerindo outros cursos, inclusive mais próximos. Determinada ela queria fazê-lo em Dourados, onde temos raízes familiares e onde ela já estudou, na Escola Presbiteriana Erasmo Braga, em sua pré-adolescência.
Pesava para nós o fator financeiro. Já tivemos melhores dias em Castanheira, nesta área, mas de 6 anos para cá o conceito de “viver por fé” deixou o campo especulativo, apesar de Deus nos surpreender, dando-nos, inclusive uma casa, neste tempo, a partir da iniciativa de três amigos, também de Dourados, que vendo nossa dificuldade com aluguel disseram: “Vamos ajudar vocês a saírem desta condição” (isto estará entre os registros da série).
Na primeira tentativa de realizar seu sonho, Bia passou no Vestibular. Mas, não tínhamos os recursos. Depois de um ano de experiencia no mercado de trabalho, trabalhando na empresa Resolv, em Castanheira, mesmo sendo adolescente, focada, ela voltou a passar. Aí concluímos – Eu, e Rosenir, a esposa – que deveríamos investir no projeto. Os recursos, contabilizados até nos centavos, não dariam. Mas, nunca deixamos de acreditar que Deus abriria portas.
Como somos tentados, erroneamente, a “dar uma forcinha para Deus”, ponderamos que íamos vender nosso velho UNO, num momento favorável no mercado, e andaríamos a pé. “Isto não seria problema”, ponderamos. Mas, tem aquele negócio de uma “voz interna” que confrontava: “Vocês não confiam?”. Mesmo assim, vendemos o carro, conseguindo os recursos para uma lista enorme de gastos, que incluía viagem para o destino final, a 1.715 quilômetros. Como pais, decidimos acompanhar, eram três passagens. E teria matrícula, primeira mensalidade, compra de móveis, primeiro aluguel num apartamento dividido, etc.
Os recursos para viabilizar o sonho da filha estavam longe das possibilidades. Mas, como disse, havia fé. E aquela voz interna dizendo “vocês não confiam?”. Depois de dar o primeiro passo, pela fé, Deus resolveu intervir, levantando parcerias que nos fizeram respirar quanto as responsabilidades futuras. Em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, uma pessoa amiga revelou ter sentido no coração o desejo de ajudar. “Assumo o aluguel”, disse, nos surpreendendo. Lembram do carro? Pois é, pela graça de Deus realmente não andaremos a pé em nossos compromissos locais, embora isto nunca seria um problema. Ele nos agraciou com um veículo melhor do que o anterior.