Castanheira: a história antes da história e um desbravador às vezes esquecido

RESUMO DA NOTÍCIA

A figura de um sul-matogrossense de origem francesa e a cidade que quase não existiu são capítulos importantes da história de Castanheira.
Talvez seja de seus ancestrais, oriundos de Nantes, que ele tenha herdado tanta garra pela vida, pois a 6ª maior cidade francesa é conhecida como “a cidade com mais vida da Europa”. Maurício Nantes, do alto de seus 79 anos, é um homem dedicado no que faz. Filho de João Alves Nantes, nascido na Fazenda Capão Seco, de sua família, a 80 quilômetros de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, onde hoje existe a cidade de Sidrolândia, foi um dos primeiros a pisar em solo castanheirense. 

Ocupando, seguidamente, várias presidências do SICOOB MT/MS e desde que chegou no Mato Grosso, com 21 anos de idade, residindo em Cuiabá, além de professor de economia na UFMT, onde foi formando da primeira turma, trabalhou como economista na Companhia de Desenvolvimento do Estado de Mato Grosso  (CODEMAT), no setor de desenvolvimento e projetos, ocupando vários cargos. É deste vínculo que seu nome se liga a história de Castanheira.

À parte das questões que levantam questionamentos no mundo acadêmico, sobre o programa de colonização da Amazônia, criado pelo governo federal, em tese, para ocupação do que chamaram “espaços vazios”, como bom soldado Maurício aceitou o desafio de deixar o conforto da capital, pelo cotidiano instável de incursões numa região inóspita, onde só chegava de barco, para compor com os desbravadores do chamado Polo Aripuanã, então um extenso município, com sede em Cuiabá

Juína excluída...

Eram 2 milhões de hectares, transferidas pelo governo do Estado à CODEMAT, para que esta, através de licitação, vendesse as áreas para colonizadores constituir cidades. Definidos os alvos – Juruena, Cotriguaçu e Colniza – a região que mais tarde seria Juína foi excluída, por ser definida como “terra interditada a fim de perambulação indígena”. 

Maurício Nantes destaca que a estratégia, contudo, incluía a construção de uma Estrada, em convênio com a Superintendência de Desenvolvimento do Centro OesteSUDECO, que se chamaria  AR1, saindo de Vilhena, hoje no Estado de Rondônia, na direção de Aripuanã. Como tinha que passar por onde seria Juína, a lei foi mudada. Isto depois de chegarem no Rio 21, e concluírem que era preciso uma ocupação melhor. Assim, nasceria o Projeto Juína, em 1976.

Hilton Campos e Jorge Marcantonio

Para coordenar o novo capítulo do Polo Aripuanã, ou seja, o Projeto Juína, ele foi o designado. “Nossa equipe era grande, composta de profissionais de várias áreas, como engenheiros, arquitetos, administradores, desenhistas, entre outros”, lembra Maurício, destacando que entre esses foi recebido Hilton Campos, engenheiro civil recém contratado, que passou a ser o executivo do projeto Juína. 

Dentro do conceito de melhor ocupação, na medida em que a construção da estrada AR1 avançava, surgiu o sub núcleo de Castanheira, que viria a ser comandado por Jorge Marcantonio, até hoje residente naquele que seria um futuro município, criado em 04 de julho de 1988. 

No meio do caminho havia uma estrada...

Mauricio Nantes lembra de um dos episódios da empreitada de avançar o acesso a Aripuanã, nas imediações da futura cidade de Castanheira. “O traçado da estrada já estava desenhado, não podia mudar. Mas, no meio da estrada havia uma árvore de castanheira bem grande. Ai os construtores perguntaram: e aí, derrubamos ou não esta árvore?”. Ele e Hilton Campos foram ver e concluíram: “não vamos derrubar, vamos contornar”. A árvore não foi derrubada e passou a ser o símbolo que deu origem ao nome da cidade.

Embora tivesse perdido contato com o município durante muitos anos, este dinâmico desbravador, ao revisitar Castanheira por ocasião da implantação do SICOOB, manifestou sua alegria em ver a realidade, hoje, do município. "Sempre tive muito carinho pela região, tanto que guardo uma fotografia, em meu escritório, da primeira construção em Castanheira, da qual tive o prazer de participar".

(As fotos destacam "Seo" Maurício na frente da castanheira histórica, preservada por ele e equipe na abertura da AR1 e na frente da primeira construção da cidade, o escritório da CODEMAT).