Alguém disse que a vida é feita de movimento, de fins e de recomeços. As despedidas fazem parte disto tudo, mas não são fáceis. Principalmente quando, quem se despede, plantou muitas sementes.
Marcelina Nascimento da Cruz, entra neste cenário, a partir deste domingo, 03. Ela faleceu, por volta das 22 horas, no Hospital São Lucas, em Juína, onde estava internada, na UTI, tendo por perto, na sala de espera e corredores, a solidariedade, em silêncio, de muitos personagens de sua história.
Era conhecida de muitas formas. Mãe de Lourdes e Maria Juci, avó do Léo, do Posto, avô da Marciele, etc. Qualquer texto seria muito longo para definir os que choram sua perda, afinal foi mãe de 10 filhos, 08 dos quais se estabeleceram em Castanheira, desde seu início, filhos que lhe deram 24 netos e desses 34 bisnetos, que geraram 06 tataranetos.
Fazia parte de uma leva de catarinenses, oriundos de São Lourenço do Oeste, terra que lembra nomes como Gilio, Elizeu, Zilda, Carolina, Antônio e tantos outros, que se deslocaram para Castanheira assim que as notícias de uma nova terra de oportunidades surgia em Mato Grosso, puxada por grandes empreendimentos madeireiros, um deles a Rezzieri, do conterrâneo Elizeu.
O esposo, Otacílio Fagundes da Cruz, foi um dos primeiros nas lidas do campo, em 1981, no Sítio Santa Inês, lugar de algumas lembranças que já marcam a história da grande família. Ali, Marcelina tomou bons chimarrões, deu boas risadas e contou muitas histórias, um dos fazeres prediletos.
Com tantos anos de vida, impossível não ter vivenciado algumas tristezas, todas superadas por abraços e afagos que nunca faltaram, como da neta Marciele, de terra Roxa, que ainda teve tempo do último, neste domingo, quando olhou em seus olhos, segundo testemunha, e retribuiu, mais uma vez, o “eu te amo”, recíproco na relação.
Das dores da caminhada, sua história registra a perda do esposo, companheiro de tantas partilhas, e três filhos. Com um desses, viveu uma das maiores emoções. Severino, lembrado como “o pródigo”, desapareceu por 22 anos. Alguns o davam como morto. Mas, como coração de mãe sente, Dona Marcelina sempre dizia “meu filho está vivo”. E estava! Apareceu em 1975. Desfrutou de seu chamego, ainda, por muito tempo, tendo falecido em 2016.
Na Casa da Saudade, nas próximas horas, até às 17 horas desta segunda, 04, quando se encerram as despedidas, reverência e tristeza vão se misturar. Reverência, pela história que essa matriarca escreveu. Tristeza porque não estará mais por perto, irradiando sua luz.
Alguns já se antecipam em falar. “Ela era tudo pra nós”, diz a filha Lourdes Fagundes da Cruz Malmann, residente em Campo Novo. Maria Juci, Chaves, destaca, por todos, o fato de sua mãe ter sido um exemplo a ser seguido. “Nos educou, formou, era uma pessoa de caráter”, destaca, num lamento.