Com o passar do tempo, os que revirarem a história dos primeiros moradores de Castanheira, vão se deparar com o nome de Jorge Marcantonio, hoje com 64 anos e ainda ativo, trabalhando como corretor de imóveis no município.
Com a esposa, professora Maria Odete Coltri Marcantonio, constituiu o sétimo grupo familiar a se estabelecer na nova terra, onde se contava umas poucas casas.
Castanheira, na verdade, talvez nem tivesse existido, pois o capítulo “Aripuanã”, do projeto Polo Amazônia, que visava o povoamento da região noroeste do Estado, conhecida até hoje como Amazônia mato-grossense, não incluía, inicialmente, alguma referência onde hoje existe Juína, por uma questão relacionada a presença indígena.
Com a necessidade, contudo, da estrada AR1, que saía de Vilhena, cortar a região, na direção de Aripuanã, na época um grande município com sede em Cuiabá, uma lei possibilitou o surgimento não apenas da chamada “rainha da floresta” como a terra das castanheiras.
Jorge Marcantonio teve um papel importante neste cenário, pois foi designado administrador do subnúcleo de Castanheira do Projeto Juína (outro era Terra Roxa), por designação da Companhia de Desenvolvimento de Mato Grosso, CODEMAT, órgão gestor.
A função exigia grandes responsabilidades, desafio que aceitou sem pestanejar e foi além dele, ao fazer coisas como lecionar, a noite, no antigo Mobral (alfabetização) naquele que foi o primeiro prédio da cidade, o da Codemat, uma espécie de espaço multiuso, do qual conta muitas histórias.
“Não tinha quase nada em Castanheira, além do Escritório da CODEMAT”, lembra, destacando que ali, além de Escritório, foi sua residência, funcionava a primeira sala de aula, onde a esposa, Maria Odete Coltri Marcantonio lecionava, inicialmente, para 15 alunos, e foi o primeiro espaço das missas dominicais.
A figura do faz-tudo já existia nas origens de onde seria o município, na figura de Jorge Marcantonio, por dever do ofício. "Eu fazia de tudo um pouco", diz, lembrando que foi responsável pela abertura de ruas, estradas como as linhas 1, 2 e 3 e pela construção de escolas rurais até o ano de 1984, dois anos depois do já povoado ganhar a condição de distrito de Juína, declarado município dois anos antes.
Naquele ano a empresa estatal retirou-se, deixando uma base sólida para aquele que, quatro anos depois, em 04 de Julho de 1988, também ganharia o status de município. Jorge resolveu ficar. Nestas alturas já tinha um novo capítulo em sua história, o filho Rafael Marcantonio, hoje veterinário atuante em Castanheira.
Ao falar na CODEMAT, este pioneiro, nascido em Racho Alegre, Paraná, filho de Manuel Marcantonio e Eduviges Saragoça Marcantonio, descendente de italianos e portugueses, se emociona. Lembra, entre outros detalhes, que os lotes urbanos e rurais sob sua tutela, vendidos a preços simbólicos, eram regularizados. Quando a empresa deixou a região, começariam as primeiras invasões.
Dentre tantas recordações, a ruptura entre os momentos iniciais, com poucas casas, e o início de um grande fluxo de migrantes, oriundos de vários lugares, atraídos por notícias como as oportunidades do setor madeireiro, que já tinha duas referências no começo da década de 80, se destacam, além de várias iniciativas pioneiras, das quais teve o privilégio de participar.
Ao lado da esposa Odete, do filho Rafael, da nora Francieli e do neto Emanuel, se diz satisfeito com a vida em Castanheira e com a história que por aqui já viveu. “Gosto muito de Castanheira, também com 40 anos se não gostasse já tinha ido embora", diz entre risos.