As forças armadas e as manifestações contra as eleições

A chuva neste 15 de novembro, em Brasília, impediu aquilo que muitos eleitores do presidente Jair Bolsonaro no pleito passado estavam chamando de “a grande batalha” e outros “o dia D” em relação a desfechos como anulação das eleições, derrubada do poder, incluindo até a volta dos militares ao poder, etc. 

Num tempo de farta espiritualização de questões outrora vistas como profanas, para justificar posturas, alguns, do outro lado, observaram que Deus pode ter dado uma segunda resposta sobre o momento. A primeira, teria vindo através das urnas. 

O movimento, contudo, com vários atos, e no caso de Brasília com participação de centenas de caravanas de todo o país, patrocinadas por empresários, especialmente do agronegócio, continua. Até um grupo de Castanheira se encontra na capital federal, com seus personagens reverenciados por alguns nas redes sociais como “heróis” (neste caso da resistência).

Desde antes do resultado do segundo turno das eleições para presidente da república e governadores, neste caso em alguns Estados, as manifestações relacionadas ao primeiro cenário já eram pensadas, caso os resultados das pesquisas se confirmassem. Como a democracia permite este movimento, desde que dentro das regras constitucionais, algumas iniciativas começaram a ser questionadas, nos dois lados da polarização que se estabeleceu no país. 

O que poucos fizeram nesses dias, envoltos nas várias e diferentes emoções comuns aos militantes em cenários de vitórias e derrotas, foi ler mais atentamente a nota emitida pelas Forças Armadas. Com isto proliferam opiniões, nas redes sociais,  desassociadas do objetivo pretendido por seus autores, mesmo que o texto, em alguns trechos, propositalmente ou não, levante várias interpretações. Dele, porém, o parágrafo mais importante é o que segue:

“São condenáveis tanto eventuais restrições a direitos, por parte de agentes públicos, quanto eventuais excessos cometidos em manifestações que possam restringir os direitos individuais e coletivos ou colocar em risco a segurança pública; bem como quaisquer ações, de indivíduos ou de entidades, públicas ou privadas, que alimentem a desarmonia na sociedade”. 

Para evitar o desenho, os parágrafos anteriores, reafirmam o papel das forças armadas, de zelar pela segurança e ordem (há quem diga que estejam extrapolando esse parâmetro); das instituições públicas, pelo cumprimento dos direitos e deveres de todo cidadão “especialmente no que tange a livre manifestação do pensamento e liberdade de reunião pacífica e à liberdade de locomoção no território nacional”; e dos cidadãos de não fazerem nada que restrinja direitos individuais e coletivos ou alimente desarmonia na sociedade.

É possível, pra quem não está envolvido com as emoções de uma ferrenha disputa, em que o “vale tudo” correu solto, concluir que nunca tantos excessos foram vistos numa disputa como no pleito eleitoral relacionado a presidência da república. E continuam sendo cometidos!  Muitos, se não fossem tão graves seriam hilários. São ações e comportamentos que continuam alimentando desarmonia na sociedade. Daí torcermos (ou rogarmos) para que as decisões dos agentes públicos se restrinjam aquelas que coloquem freio nos excessos e que as manifestações observem o que é determinado em lei. Talvez com isto consigamos um pouco de paz...

Vivaldo S. Melo