Luto: Um japonês que fez história entre nós

A conversa de um grupo de amigos, formado por Altamiro Cândido da Silva, Rogério Pedro Graeff, Guilherme Passceli Brandão, Divino Cândido da Silva e Marquinhos Busnello, nos primeiros minutos desta segunda-feira, 02, na Casa da Saudade, em Castanheira, define o que foi Kunitoshi Tabata: um homem literalmente do bem, apaixonado pelo trabalho e pela família.

Conhecido como Mário Japonês, ele faleceu por voltas 15h30 do domingo, no Hospital Municipal, em Juína, onde estava internado, pouco tempo depois de receber a visita de familiares. “Temos que estar preparados para momentos como esse”, diz a irmã, Sandra, na medida em que relembra histórias dos primórdios da família, especialmente em Castanheira. 

Há 65 anos ele deixou o Japão com os pais, Kunio Tabata e Setsu Tabata, chamados em terras brasileiras de José e Maria. Depois de um tempo em São Paulo, chegaram a Pedra Preta, na região de Rondonópolis. Ali Mário conheceu Nadir Passeli, sua esposa, e nasceram os filhos Márcio e Márcia. Foi quando ouviram falar de um lugar promissor, hoje Castanheira, no noroeste de Mato Grosso, onde chegaram em 1987. 

Quem conheceu Mário Japonês fala dele com muito carinho. Altamiro o teve como vizinho por 25 anos. “Foi meu professor”, destaca, lembrando as aulas de volante, numa caminhonete, em 1988. “Não sabia fazer mal a ninguém, a não ser pra ele próprio, por ser bom demais com as pessoas”, observa Rogério. “Foi algo de Deus manda-lo do Japão para nossa terra”, completa Marquinhos, dimensionando sua importância. 

Como a história de Castanheira se confunde com a Madeireira Rezieri, por mais de uma década foi mecânico da frota de veículos da empresa, mantendo uma oficina numa de suas antigas instalações até pouco tempo. Era o homem chamado para consertar as máquinas nas primeiras fazendas do município, muitas vezes trabalhando até o avançar da noite.  Não descuidava, contudo, de dedicar um tempo à família. “Mais do que um pai, era um grande amigo”, destacam os filhos. 

A trajetória de Mário Japonês foi tão marcante em Castanheira, onde ensinou para muitos os segredos da mecânica, que um grupo de amigos se organizava para montar uma oficina na propriedade onde passou boa parte de sua vida, a Chácara Colorado, nos limites com a cidade. Não houve tempo. Vencido por um câncer, tendo a fé católica como elemento propulsor de sua espiritualidade, venceu, contudo, o único inimigo que se tem notícia em sua história local, a morte. “Cremos que ele está voltando para o Pai”, conclui a irmã, Sandra. Seu sepultamento acontece nesta segunda-feira, às 11 horas, no Cemitério Bom Jesus.