Luto: Costura, alegria e pioneirismo ficam mais órfãos em Castanheira

RESUMO DA NOTÍCIA

Morre, aos 81 anos, dona Leonor. Deixa uma boa história para ser contada pelas futuras gerações.
Uma das experiências mais refletidas pelos homens, o luto, começou a ser vivido desde às 22h20 desta quarta-feira, 05, pela família de Leonor de Almeida de Melo. Neste horário, no Pronto Atendimento da cidade, ela deu seu último suspiro, finalizando um tempo de muitas idas e vindas em hospitais de Juína, Várzea Grande e Cuiabá, depois de uma queda, sofrida em março último.

Com sua partida, os castanheirenses voltam conversar, na Casa da Saudade, lugar de nossos adeuses, sobre a finitude humana, tema de um capítulo na obra do teólogo e mártir alemão Dietrich Bonhoeffer, e sobre a situação limite mais extrema, conforme obra de Paul Tillich, exatamente por conta deste limite. 

Tanto Bonhoeffer como Tillich, contudo, veem no evento uma oportunidade de se buscar significado e transcendência na relação com o fundamento último do ser, Deus, crido por eles. Embora os conceitos possam ser rebuscados, sinalizam com a fé dos familiares e que moveu a simpática senhorinha de “olhinhos azuis”, conforme lembrou, num texto de despedida, a Jéssica Moline.

Se o céu pode estar ganhando uma nova cidadã – fé não faltava em sua experiência de vida – por aqui, amigos e familiares lamentam sua partida. É o sentimento comum a todos os mortais quando alguém que deixa marcas, tem seus dias findados. José Ferreira Neto, o Zézinho da Prefeitura, por exemplo, tem entre os lamentos a impossibilidade, doravante, de, à moda antiga, dizer o “bença mãe!”, cobrado sempre dele, do outro filho, o João, e dos três netos. 

Dona Leonor era católica e tinha como um de seus passatempos prediletos frequentar as atividades do Saber Envelhecer, grupo da chamada melhor idade, que estudos recentes comprovam que pode realmente ser, pelo ciclo do ápice do saber e produção humana que se inicia no pós 60. 

Ela era de 1942, fazia parte da família paranaense local, tendo nascida em Londrina, e por ter chegado com o esposo, Joaquim Ferreira de Melo, falecido em 2009, no começo da década de 80 do século passado, residindo inicialmente na linha João Paulo, insere seu nome entre os pioneiros.

Indagados sobre os gostos de seu cotidiano, Zezinho destaca a dedicação ao lar, o costume de fazer costuras e a perfeição nos pratos que fazia, especialmente o pirão com farinha de mandioca, com molho ao frango. Para Jéssica, que era todo carinho no cuidar da avó, dona Leonor era uma bebezinha, expressão simbólica que insere a ideia de alguém muito querida. E era! Despedidas acontecem até às 17 horas.