“Quantas mortes serão necessárias para que a COVID 19 seja freada?” A expressão, lembrando Bob Dylan nos tempos de guerra, não sai da cabeça da maioria dos brasileiros, diante da agressividade do vírus, que na terça-feira, 09, levou quase 2 mil pessoas, duas de Castanheira. Nesta quarta, 10, logo pela manhã, mais uma: a cidade perde o “Seo” José Francisco Nascimento, um de seus pioneiros.
José Francisco estava sofrendo, há semanas, hospitalizado em Juína, ao lado da esposa, Beatriz Joaquim do Nascimento, sua inseparável companheira, com a qual protagonizava uma história de 66 anos de união, superando as bodas de cobre. Ela faleceu no último domingo, dia 07.
Lúcido, falante, como revelou matéria especial da Revista Innovare News, de julho de 2016, sob o título “Unidos Para Sempre”, que narra sua relação de amor com a esposa, iniciada em Posto do Pau, município de Limoeiro do Norte, Pernambuco, costumava se emocionar ao lembrar das dificuldades da caminhada.
“Saímos eu, a véia e uma bolsinha apenas”, destacou, ao falar de sua migração ao Paraná, onde viveu 20 de seus 91 anos, antes de fixar-se em Mato Grosso, inicialmente em Tangará, onde plantou café, e depois Castanheira, onde realizou o sonho de ter seu chão, a Chácara “Cristo é a Única Esperança”.
As marcas da fé pontuaram sua história. Depois de quase um ano de casado, teve uma experiência espiritual na Igreja Batista, já no Estado do Paraná. Segundo testemunhava, a partir disto aprendeu a renunciar tudo que entra em conflito com a Bíblia, seu livro predileto.
“Minha maior alegria é ser cristão”, disse ao jornalista Vivaldo S. Melo, numa prosa. Em Castanheira foi pioneiro de sua denominação religiosa e chegou a congregar com os presbiterianos locais, antes da Igreja Batista se estabelecer.
Perguntado sobre o segredo para uma convivência tão longa com Dona Beatriz, indicava o empenho mútuo pelo diálogo, perdão e a capacidade de suportar um ao outro.
Já sofrendo com os limites de saúde, dizia que “nessas horas é preciso muita fé para transpor as barreiras”. Com sua morte, honrando a leitura que costumava fazer da vida, sob a ótica do evangelho cristão, alguém lembra que José Francisco venceu o último inimigo de sua jornada terrena. Acreditava na vida eterna. Nesta perspectiva, já começou a vive-la, deixando para trás apenas a saudade, especialmente dos filhos e netos. Com Beatriz teve cinco filhos.