Ivan Justino de Oliveira, 59 anos, que alguns chamam, carinhosamente, de Buda, nunca imaginava, no começo de 2021, que vivenciaria um ano tão turbulento e os próximos a ele, que seria capaz de transpor, literalmente, o vale da sombra da morte. Isto porque ficou intubado 70 dias, depois de ter contraído o vírus da Covid 19.
A relevância da vida deste paulista de Pirapozinho, que reside em Castanheira desde seus primórdios, se mede, também, com a leitura que se faz das estatísticas envolvendo o vírus chinês. Única esperança de sobrevivência para um paciente grave, com pulmão que perdeu a capacidade de oxigenar o sangue, a intubação no Brasil tem conseguido salvar apenas 20% dos pacientes.
“Minha meta no tratamento dele era que os primeiros passos fossem dados 15 dias após as primeiras sessões de fisioterapia, com quatro, porém, ele já estava andando”, destaca Danielle Lidiane, acrescentando que Ivan, do qual se diz fã, gosta de surpreender e já está andando de bicicleta, fazendo pilates e fala em voltar a trabalhar, em seu caminhão, em breve. Neste caso, as recomendações médicas são de seis meses do pós internação.
Incansável no apoio ao pai, a enfermeira Ana Paula Licheski, chefe do setor de imunização da Secretaria Municipal de Saúde, destaca a dor de vê-lo exatos 84 dias entre o Hospital São Lucas, Centro Covid e Hospital São Geraldo, em Juína, num quadro de esperar contra a esperança, especialmente depois que Lenira Licheski, também com Covid 19, e internada no mesmo período, faleceu no trigésimo dia de tratamento. O clássico cantando por Maísa “Meu Mundo Caiu”, se enquadra no espírito do que viveu.
Como existe muita curiosidade em torno da experiência vivenciada também por outros castanheirenses - como Daniel Matos de Andrade, César Arvani, Marcilene Nunes e Alexandre Herreira -, perguntamos a Ivan Justino se ele teve alguma noção de todo o seu calvário. A resposta traz um pouco de alivio aos que tem familiares que passaram pelo mesmo quadro e não conseguiram vencer a doença: “Não me lembro de nada!”. Numa só palavra ele “desligou-se!”.
Sua experiência é animadora diante de estatísticas cruéis, principalmente quando se leva em conta que é portador de comorbidades. Seu exemplo, uma referência para os que precisam se livrar das sequelas da Covid 19.
Ivan não estaria fazendo caminhadas diárias com o concunhado e amigo Daltro Busnello, o Tota, pedalando sua bicicleta, fazendo pilates e indo a Igreja, se não se submetesse a uma rotina de procedimentos, que inclui o esforço de não permitir que o cansaço, natural nestes casos, o domine, ainda mais quando tem seus limites. Um deles, o emocional, pela dor de não ter ao seu lado sua eterna companheira de jornada.