Francisco, Joaquim, da Silva, são nomes e sobrenomes comuns. Vinculados a uma só pessoa, continua mantendo essa característica. O Francisco Joaquim da Silva que faleceu neste sábado, 12, em Castanheira, contudo, contraria a lógica. Poucos o conheciam. Como seus órgãos estavam em estado de deterioração, o fato de ser pouco conhecido pesou na decisão de um sepultamento imediato.
É possível dizer que quase ninguém chorou por sua morte. Mas, como Deus é bom, levantou algumas pessoas em Castanheira para devotar-lhe carinho. Ele era de um grupo pequeno de cidadãos, sem vínculo mais forte com familiares, que vivem em algum quartinho da cidade, dependendo de favores.
Das mãos de sua acolhida destacamos as equipes da Saúde e da Assistência Social do município. Embora alguns possam dizer que não fizeram nada mais do que cumprir o papel que lhes cabe, elas atuam como famílias. Por isto, entre eles, o sentimento de perda marca este sábado chuvoso, que acentua a força simbólica dos ritos fúnebres esvaziados ou, nestes tempos de Covid, sem a presença humana, mesmo dos mais próximos.
“Era uma pessoa educada, muito grata pela ajuda que estava recebendo”, diz Marisa Jardine, funcionária da Saúde e vereadora, que chegou a acompanha-lo numa das viagens a Cuiabá, para tratamento, onde diagnósticos chegaram a aliviar os próximos, pois os médicos descartaram a existência de um câncer. Francisco iria voltar, para novos exames, mas não deu tempo.
Segundo Marisa, quando indagado sobre seus familiares, ele costumava dizer que residem em Lins, no interior de São Paulo. Animados para ajudá-lo a revê-los, ouviram um “não” como resposta. A razão? Se passaram mais de 30 anos do último contato. Com isto, acostumou-se a viver sozinho. E gostava de ficar por aqui. Seu túmulo talvez seja, doravante, um dos menos visitados no Bom Jesus. Mas, simboliza a vida triste de muitos, que vivem a margem dos processos mais dinâmicos da comunidade. E que deveriam ser vistos com outros olhos.