Neste 10 de fevereiro o Rev. Vivaldo da Silva, formado em teologia pelos Seminários Presbiterianos do Norte (Recife) e do Sul (Campinas) da IPB, com curso convalidado pela Fathel/Unifll (Campo Grande-Londrina) e pós graduação em Ciências da Religião pela UMESP, jornalista, residente em Castanheira, Mato Grosso, há 12 anos, completa 66 anos de idade. Diante de um anúncio de venda da sua casa, movidos pela curiosidade, fomos ver do pastor, hoje atuando como missionário da IPCB, se está de malas prontas para outro lugar.
GENTIL VASCONCELOS - E esse anúncio de venda, saindo de Castanheira?
VIVALDO DA SILVA - Ainda não. Uma das coisas que nos mantém por aqui é o cuidado com a nossa pequena comunidade de fé.
GENTIL VASCONCELOS - E a imprensa?
VIVALDO DA SILVA MELO - Temos um projeto de imprensa diferente na região há uns 10 anos, sem viés comercial. Tudo começou com a criação de uma revista e um Site, sem fins lucrativos, para dar suporte a Escola Presbiteriana de Castanheira, pela qual trabalhamos na estruturação e direção, no início, projeto sonhado pelo presbítero Genes Rios. A Revista teve 20 edições, todas sem fins lucrativos e com pequena verba publicitária (o projeto era caro e as contribuições locais pequenas) destinada a projetos sociais, um deles o Parque Infantil Thallyson Vargens. O Site, inicialmente INNOVARE NEWS, que daria lugar ao Castanheira News, também teve o mesmo perfil. Pouquíssimas verbas publicitárias, dando apenas para cobrir despesas. Os projetos culturais paralelos - e nisto o Site foi e tem sido importante - sempre visaram apoiar o setor, como no caso do Concurso Fotográfico “Um olhar sobre a natureza castanheirense”, com 3 edições, com renda para premiar os melhores ou alguma causa específica, especialmente iniciativas de missão. A Capela da IPCB, por exemplo, antiga Nova Canaã, teve como uma das fontes de recursos para construção as vendas dos exemplares da Revista, extinta. Vendíamos revista nas ruas em Castanheira, Juína e até Juara. Mas, a contrapartida do comércio, sempre foi mínima, por ser pequeno, numa cidade de pouco mais de 4 mil habitantes. Hoje, para se ter uma ideia, apenas o Sicredi apoia o Site, com uma verba usada apenas nos gastos. A dificuldade de se encontrar apoio pode ser medida numa venda de espaço em uma das edições da revista Innovare News, com custo avaliado, hoje, com orçamento atualizado, em R$ 8 a 10 mil reais. Uma cota de R$50 reais, da parte de um comerciante, foi contestada, como se fosse muita coisa.
GENTIL VASCONCELOS - Cansou então!
VIVALDO DA SILVA MELO - Sim! Mas, tem também a idade. Hoje sou um idoso, com 66 anos a serem completados no próximo sábado, aposentado com um salário mínimo (hahahaha) e não tenho condições e motivação para correr atrás destes apoios e muito menos desembolsar recursos para ajudar a comunidade em alguma coisa. Destacando que sempre tivemos um pequeno núcleo de apoiadores aos projetos que desenvolvemos em Castanheira. Existe solidariedade e acolhimento fortes aqui. Mas, Castanheira é pequena. E todos acabam buscando as mesmas pessoas, entidades e as poucas empresas para parcerias. Acaba sendo difícil para este pequeno núcleo ajudar sempre.
GENTIL VASCONCELOS - E o Site, como fica?
VIVALDO DA SILVA MELO - Enquanto não paramos, buscamos alguém que deseje tocar o projeto. Se tiver um perfil comercial, coisa que não temos, o Site tem condições de gerar recursos. Um exemplo: hoje os sites geralmente cobram - e alto! - matérias de empreendedorismo. E tem que cobrar! Nós nunca cobramos um centavo. Que o digam os vários beneficiados. Muitos, quando procuramos para propor uma matéria, perguntam: “Quanto fica?” A resposta sempre foi: “Nada”. O objetivo sempre foi ajudar. E ficamos felizes ao ver que muitos destes empreendedores estão com seus negócios solidificados. Bem que poderiam ser parceiros (kakaka). No nosso caso, os colegas de imprensa costumam dizer coisas como “você é bobo”. Na própria família ouço isto. Mas, sempre cremos que Deus abre outras portas. Mas, é difícil. Neste ramo, hoje, tudo é cobrado. Até uma foto que poderia abençoar pessoas, muitos autores vinculados a grupos poderosos não perdoam em cobrar altas somas, além do que já ganham, para liberar uma outra imagem No nosso caso, ao longo de décadas, publicamos milhares de fotos, sem marca d’agua, sem requisitar direitos autorais, não por achar errado, pelo contrário, mas por ser um projeto diferente. Tem muito evangelho no que fizemos e ainda teimamos em fazer. Mas, chegamos no limite.
GENTIL VASCONCELOS - O Castanheira News deixará de idealizar projetos na comunidade?
VIVALDO DA SILVA MELO - Enquanto ainda o Site estiver em nossas mãos não. Agora mesmo estamos empenhados em resgatar a obra do primeiro maestro do município, o saudoso Joaquim Rodrigues da Cruz. Estamos pesquisando os “fragmentos” e a ideia é a gravação de sua canção que muitos veem como o Hino de Castanheira, em dois formatos - com vozes e play back - e videoclipe. Isto, contudo, tem custos. E aí vem aquela coisa: correr atrás, novamente?
GENTIL VASCONCELOS - Fazer imprensa em Castanheira é difícil?
VIVALDO DA SILVA MELO - Pelo que já falamos, sim. Mas, os desafios são naturais em todas as áreas. Acreditamos que um pouco mais de consciência do valor de algumas iniciativas poderia gerar uma realidade mais justa. Acho que mais pessoas poderiam ajudar. No caso do Castanheira News e no seu status anterior (Revista e Site Innovare News) tentamos dar uma contribuição positiva para resgatar os valores e a história do município. Uma edição inteira da revista, por exemplo, foi dedicada à narrativa dos inícios. Quatro canções - disponibilizadas no youtube - foram feitas, com videoclipe e temática relacionada a Castanheira. E tiveram vários projetos e centenas de textos relacionados aos pioneiros, entre outros destaques. E fizemos tudo isto por amar o lugar. E detalhe: sem vinculação política alguma. É lamentável, hoje, ver que tudo passa pela polarização existente nesta área.
GENTIL VASCONCELOS - Força aí, Reverendo! Que as portas não se fechem totalmente por aqui. Estamos certos de que outras se abrirão!
- Gentil Vasconcelos é educador, escritor, palestrante e um dos leitores do Castanheira News à distância. Mora em Aquidauana, MS. É formado em Biologia pela UFMS e tem especialização em Educação Ambiental pela Universidade Católica Dom Bosco. É o fundador e presidente do Centro de Recuperação Vida Nova e do Projeto Chegando Primeiro, instituição que atua na recuperação e prevenção que acolhe e trata de dependentes químicos. Na literatura, é autor de vários livros, entre eles “Zé Caré Em Busca do Rabo Perdido”, obra infanto juvenil que conta a história de um jacaré que perde o rabo em uma armadilha de caçadores e sai em uma aventura pelo Pantanal e pela cidade de Aquidauana, buscando recuperar sua cauda e conscientizar as pessoas sobre a importância da preservação do meio ambiente. O livro foi ilustrado por Jô de Oliveira, um artista plástico pernambucano. No seu dia a dia estão, também, palestras focadas em temas como o evangelho, família, religião, cidadania, ecologia e saúde. Nas redes sociais tem o podcast PodNow, que trata de assuntos diversos.