Alguém disse que a morte de alguém, pode alterar drasticamente a dinâmica e as responsabilidades dentro de uma família. Nos “Batistas” do Paulinho da Horta, como alguns gostam de referenciar um deles, a forte presença de Maria Aparecida Vieira Batista, a Dona Dica, sua mãe, vai ser muito sentida a partir desta sexta-feira.
Na Chácara Vitória, no Casulo, na MT 170, saída para Juína, Dona Dica era a alma do lugar. Sua ausência, em meio a vasta produção de verduras pela solução hidropônica, vai motivar saudade, sempre que alguém passar por lá. “Não tinha hora pra atender a gente”, diz uma amiga entre os que participam das despedidas.
“Devia ser umas 4 da manhã, quando o Paulinho me ligou”, diz Maria de Lourdes, uma das quatro filhas. E quando todos os filhos se reuniram, já sabiam que a hora do adeus havia chegado. Foi tudo muito rápido, num momento carregado de emoção, findando um desejo que ela manifestara em Barretos, onde se encontrava e de onde chegara na terça
Com sua morte, Castanheira perde mais uma mulher pioneira, com histórico de vida marcado pelo trabalho abnegado, como lembra Eva Francisca de Oliveira, amiga de muitas décadas, desde os tempos “de linha Meia Dois”, no sítio Castanheira, onde plantavam café. “São 40 anos de Castanheira”, destaca a filha Lourdes.
Embora desde os tempos de Junqueirópolis, São Paulo, a terra das origens, tivesse como práticas diárias os hábitos de costurar e “cochetear”, foi na pequena terra do noroeste de Mato Grosso que um gostar, especialmente, alcançou o coração: a horta. “A horta era tudo pra ela”, destaca Lourdes.
Das lembranças da mãe, além da paixão por este trabalho, alguns amigos e familiares, ouvidos pelo Castanheira News aludem a uma expressão: “pisar na cabeça do dragão”. Essa era a reação natural de Dona Dica, num instinto protetor, quando algum tipo de ameaça pairava sobre seus queridos, especialmente os filhos.
“O seu legado viverá para sempre”, conclui Lourdes, já num tom de despedida presencial, que acontece às 17 horas, na Casa da Saudade, com sepultamento em seguida, no Cemitério Bom Jesus.
Deixa o esposo Francisco José Batista, seis filhos, onze netos e cinco bisnetos. E uma história de 73 anos a ser lembrada, afinal, como diz conhecida canção de sua fé católica: “Fica sempre um pouco de perfume, mas nãos que oferecem rosas”. No seu caso, um adendo: nas mãos que colhem os frutos da terra.