Morreu neste sábado, 02, em Castanheira, Davi Ferreira Alves dos Santos, um dos moradores da Casa do Idoso, no Bairro Guadalupe. Se cada um compõe uma história única, conforme a poesia cantada de Renato Teixeira e Almir Sater, ou “Deus trata cada um como se fosse único”, conforme cita Santo Agostinho, Davi lembra um grupo pequeno de pessoas, mas contado aos milhões, mundo afora.
Dele se pode dizer que era um homem solitário. Tão assim que, durante maior parte de sua vida, incluindo as últimas décadas, viveu sozinho, sem contato com familiares. Sua despedida, no próprio Cemitério Bom Jesus, no final da tarde, num cenário de poucas pessoas, incluindo alguns funcionários da Assistência Social e a Secretária Amaziles "Tuita" Eleto teve uma palavra sobre o impactante tema da morte e uma salva de palmas, como uma forma de homenagem.
Como os solitários, segundo estudos, costumam construir gradualmente uma pequena muralha à sua volta, sua vida de poucos amigos pode ser entendida. Mas, costumava referir-se a alguns deste universo limitado. Três foram mais frequentes nas citações: Iolanda e Monteiro, casal que o recebeu por um tempo, e Tião Ferreira.
Do pouco que dele se sabe, existe menção ao estilo desinstalado: não gostava de ficar muito tempo num lugar. Suas várias peregrinações em Mato Grosso, além de Castanheira, incluíram vivencias em Reserva do Cabaçal, Girassol e Araputanga. Desta última localidade talvez tenha ouvido falar em Castanheira, pois muitos castanheirenses migraram de lá para cá e mantém vínculos familiares. Seu prefeito, por exemplo, é da família Rios.
A propósito destes vínculos, de sua ascendência sabe-se apenas que o pai era Lindolfo Ferreira dos Santos e a mãe Josefa Ferreira dos Santos e nasceu em Brejinho, no Rio Grande do Norte, cidade de pouco mais de 12 mil habitantes. E se alguns sofrem o estigma da sociedade ao optarem por uma vida desapegada de suas raízes, há quem veja neste estado a virtude da coragem. Pelo menos é o que defende Jane Matheus na obra “A arte de viver só e adorar”.
O amigo Vilson Teixeira, popular Nei, que o acompanhou a Cuiabá, onde permaneceu por 7 dias, em decorrência de uma cirurgia no fêmur, lembra que um de seus últimos pedidos foi comer, em Jangada, lugar conhecido pelo pastel, um pão de queijo com café. Não conseguiu digerir. Percebeu que ele não estava bem. As suspeitas se confirmariam horas depois, com o seu falecimento.
Entre as lembranças do “Seo” Davi, uma imagem vai ser sempre lembrada: suas caminhadas especialmente pelas ruas centrais da cidade, em busca de latinhas. Deixou marcas de trabalho em algumas propriedades rurais, mas não gostava de vínculo longo. Se isto pode ser chamado de liberdade, morreu assim.