Covid-19: a dialética humana da vida e morte em tons extremos

Vivaldo S. Melo

A quarta semana de abril marcou a morte de milhares de pessoas, mundo afora, vitimadas pelo corona vírus: políticos, artistas, médicos envolvidos na linha de frente da doença, estudantes, gente simples, de todas as idades. Paralelamente, muitos tiveram a saúde restaurada, mantendo-se a dialética humana da vida e morte. 

O mais triste neste cenário, em que a solidariedade tem sido ofuscada pelos embates políticos em torno da pandemia, onde os extremos do pouco e muito achares de sua realidade são evidentes, tem sido as despedidas. 

Coincidentemente no dia 22, quarta-feira, três exemplos ilustram o diferencial malévolo imposto pelo vírus em relação aos sepultamentos. 

Entre outros, neste dia, morreram um cidadão chamado Jon, de 32 anos, em tratamento de Covid-19 em Danbury, Connecticut, EUA; o enfermeiro Cícero Romão de Souza,  de 51 anos, na Santa Casa de Mogi das Cruzes, em São Paulo e a jovem estudante de fisioterapia Juliana Akemi Matsushita, de 23 anos, em Cáceres, aqui em Mato Grosso. Deles, emanam histórias de partir o coração. 

Jon, ao saber que seria entubado no começo de abril, escreveu uma mensagem em seu celular, relatando seu amor pela mulher e os dois filhos pequenos. Ele estava com medo de não conseguir mais falar com Katie, a esposa, o que acabou acontecendo. Só depois de sua morte, ela teve acesso ao celular e a mensagem.

Cícero Romão, resolveu adiar sua aposentadoria para estar na linha de frente do enfrentamento do corona vírus, como enfermeiro, ajudando seus colegas, aos quais não queria abandonar. Ele atuava no Samu de sua cidade e há mais de 20 anos na Santa Casa. Acabou contraindo o vírus, risco que todo profissional de saúde corre, todos os dias, e veio a óbito. Na quinta, 23, com giroflex e sirene ligados, profissionais do Samu e do Corpo de Bombeiros da cidade paulistana lhe fizeram uma homenagem.

Juliana, também no dia 23, foi lembrada em Mirassol D’Oeste, cidade onde residia com os pais, com um cortejo simbólico numa Avenida central da cidade. Amigos, usando máscaras, com os celulares e luz de alerta dos veículos ligados, cantaram sua música predileta, Talismã, de Leandro e Leonardo, numa parada estratégica. 

Como essas, milhares de histórias tem sido contadas nestes dias turbulentos, que mostram os limites extremos da humanidade, apesar de todos os avanços dos últimos séculos em áreas como a própria saúde. De tudo, lições não faltam, citadas diariamente pelos formadores de opinião. Mais do que matar, este vírus veio para ensinar ou lembrar que continuamos humanos, carentes uns dos outros e de algo maior do que nós.