Uma mesa grande, com um cafezinho “da hora”, algum acompanhamento e a boa prosa (essa não faltava) é uma das lembranças que tenho de Aparecida Pedrozo do Nascimento.
Até março, com três das quatro filhas, essa mulher sorridente, falante, animada, hospitaleira, dava aos vários amigos que passavam em sua residência um raro exemplo do que é um lar. Sua morada era lugar de intensa alegria, ilustrada, entre outras coisas, na facilidade que tinham em puxar uma canção, com várias vozes, assim, de repente.
Sabe aquelas pessoas mencionadas no livro bíblico de Hebreus como das quais “o mundo não era digno”? Assim eram Aparecida e as filhas Edna Pedrozo do Nascimento e Alair Pedrozo do Nascimento. Darci, a caçula entre as mulheres da casa, se mantém no conceito.
O tempo verbal desta narrativa, no passado, em tempos de uma pandemia devastadora, já permite uma conclusão, não é mesmo? Isto mesmo: Aparecida, Edna e Alair não estão mais entre nós. Num período de apenas 10 dias foram vencidas pela COVID 19.
A expressão “uma família devastada”, registrada por Lysandra Davi, nas redes sociais, em meio a centenas de manifestações, dimensiona o sentimento dos que ficaram. Ainda perplexos, muitos não conseguem se manifestar, deixando que as lágrimas revelem o que a alma sente.
Conheci Aparecida e os filhos, entre eles meu amigo Eli, residente em Cuiabá, apaixonado, como as irmãs, por cantorias, e Acir, já falecido, ainda na mocidade, ou seja, em décadas contadas com quase mais de uma mão, num tempo “em que todo dia era bom”. Juntos fomos pastoreados pelos Reverendos Balbino Martins e Matatias Pereira Alves. Depois, tive o privilégio de pastoreá-las.
Com Zilá, única casada entre as mulheres, formavam o melhor conjunto de vozes (familiar) que conheci. Tive o privilégio de colocar, timidamente, a minha, acrescida de outras, como dos amigos Carlos Esthon ,João Batista e Marcos Alves, no Conjunto Nova Vida, da Igreja Presbiteriana de Dourados, numa época que jamais supúnhamos que haveria um tempo de tantas perdas.
Mais do que um grupo musical, éramos como uma família, liderados pela paciente e talentosa Lenita Sales, mulher de mãos pequenas, mas que tinha domínio extraordinário sobre as teclas do piano.
Do muito que se pode falar dessas amigas extraordinárias que já se foram (certamente para o lugar que sempre anelaram como destino perfeito de futuro), o carinho das duas irmãs pela educação é quase insuperável. Qualquer crítica que se faça a um professor se desfaz, quando suas histórias, como a de Darci, única sobrevivente da casa, são conhecidas. Mas, o amor que tinham pela mensagem do evangelho cristão reluz como ouro. Ilustraram como poucos mortais o que é viver para Cristo nas lutas do cotidiano. Na morte, deixam uma história referência para gerações.
Dona Aparecida, Edna, Alair. Doravante, naquela mesa, da acolhedora casa da Rua Dom João VI, número 1000, no Jardim Ouro Verde, em Dourados, Mato Grosso do Sul, estará faltando elas e a saudade delas vai doer em nós!
Vivaldo S. Melo
Vivaldo S. Melo