“Sua aberração. Macaca fedorenta, cabelo ninho de mafagafos, cara de favelada!”. Essas foram algumas das palavras racistas enviadas por e-mail à prefeita eleita de Bauru, a jornalista Suéllen Rosim (Patriota), 32. Algumas, mas não as únicas.
Na mesma mensagem recebida pela jovem negra, o autor também a ameaça de morte. Foi a terceira manifestação de cunho racista, a primeira com ameaça de morte, que a primeira mulher eleita para governar Bauru (a 329 km de São Paulo) recebeu em três dias.
“Eu juro, mas eu juro que vou comprar uma pistola 9 mm no Morro do Engenho, aqui no Rio de Janeiro, e uma passagem só de ida para Bauru e vou te matar. Eu já tenho todos os seus dados e vou aparecer aí na sua casa”, completa o remetente da mensagem, que em seguida cita a rua em que a jornalista mora em Bauru. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil.
Nesta terça-feira, 1º, Suéllen foi à delegacia, acompanhada dos pais, e foi ouvida por mais de uma hora sobre o assunto. Ela afirma que combater o racismo gera desgastes, mas é necessário. “Absurda a situação. A pessoa fez na intenção de passar medo. Mas não estou com medo. A mensagem é pesada, é uma tentativa de desestruturar mesmo”, afirmou a futura prefeita.
Jovem, negra, frequentadora da igreja evangélica neopentecostal Mipe (Ministério Produtores de Esperança) e conservadora, Suéllen, que nasceu em Dourados, Mato Grosso do Sul, tem sido alvo de ataques ainda antes de ter sido eleita.
No sábado, 28, véspera da eleição, recebeu via WhatsApp conversas com frases racistas. Já no domingo (29), quando foi eleita, pelo Facebook, uma postagem dizia que “Bauru não merecia ter essa prefeita de cor com cara de favelada comandando nossa cidade. A senzala estará no poder nos próximos quatro anos”.
Além do e-mail, que foi recebido na última segunda, 30, quando fez uma postagem de agradecimento no Instagram houve nova manifestação racista. “O comentário dizia que países governados por negros são mais miseráveis”, disse. A jornalista disse acreditar que o autor da postagem é de Bauru mesmo, não do Rio de Janeiro, como escreveu no e-mail.
Segundo o delegado Eduardo Herrera, que investiga o caso, a ameaça de morte foi desdobramento de outras, já feitas durante o final de semana, e o trabalho tem como objetivo identificar o responsável por elas. “A repercussão das ofensas iniciais gerou essas outras situações”, disse.
Além da eleita, a mensagem com a ameaça foi encaminhada ao diretório nacional do Patriota e a alguns órgãos de imprensa da própria cidade. “Leve o tempo que precisar. O tempo não importa, o que importa é identificar o autor, até para que isso não aconteça com outras pessoas”, disse Suéllen.
Suéllen foi eleita com 89.725 votos, 55,98% dos votos válidos, ante os 44,02% do adversário no segundo turno, o médico e ex-vereador Raul Gonçalves Paula (DEM), 59.
No primeiro turno, quando obteve 36,12% dos votos válidos, a jornalista tinha apenas 14 segundos de tempo de TV no horário eleitoral. Ela se define como conservadora, mas disse que saberá dialogar com todos os segmentos.
“Sou conservadora no sentido de saber os princípios cristãos, há princípios que fazem parte da minha vida desde sempre. Lógico que quando fala em governar, é para todos. Procuro fazer conexão de diálogo com as pessoas. Mantenho princípios básicos da família, mas também me abro ao diálogo. Dá para governar com todos”.
Com FolhaPress