Um gesto de amor, de um fotógrafo cuiabano, ilustra o impacto que isto pode ter. Tudo aconteceu quando Luciano Prado, andando por uma rua do Bairro Novo Horizonte, na capital, no início do mês passado (setembro), encontrou uma carteira com documentos e uma importância de R$ 432 em dinheiro.
Muitos, neste caso, acabam pegando o dinheiro e jogando, novamente a carteira. O ato é comum, e muitas vezes impõe barreiras a prática do bom samaritanismo. Luciano, porém, norteado pelos valores mais nobres, raros nos dias atuais, não o fez. Nas redes sociais ele registrou o ato do encontro. O dono foi encontrado: Daniel Amaral Sobrinho, um aposentado de 68 anos.
Entre as mais de 100 mil pessoas que leram o pequeno texto, uma, vendo o nome completo de Daniel estava associada a uma busca: do próprio Daniel. A família perdera contato com ele quando tinha 17 anos, no distrito de Posto da Mata, no município de Nova Viçosa, na Bahia. No distante ano de 1969 ele resolvera, como muitos nordestinos, ir para São Paulo, em busca dos tais dias melhores.
A história das lutas de Daniel é longa e inclui iniciativas também dele de reencontrar familiares, especialmente a mãe. Para resumi-la: com o tempo ele se estabeleceu em Cuiabá, onde reside há 40 anos.
Reencontro
Depois do texto e da foto nas redes sociais, por iniciativa do fotógrafo Luciano Prado, sua mãe foi contatada na cidade de Linhares, interior do Espírito Santo, a 2.188 quilômetros de Cuiabá. A busca de 51 anos estava encerrando-se.
Ana Mota Riveira, de 90 anos, reconheceu o filho e imediatamente pediu que as pessoas que cuidam dela entrassem em contato para fazer o reencontro.
“Falei com ela pela primeira vez por telefone e agora a gente se fala sempre que pode. Ela não gosta de falar muito sobre o assunto de nós termos perdido o contato, mas ficou muito alegre e emocionada com o nosso reencontro pelo celular”, conta.
Os filhos, netos e bisnetos de Daniel também nunca tiveram nenhum contato e informações sobre a avó, por isso, quando a família se reuniu para uma chamada de vídeo, o aposentado conta que a emoção fluiu de todos os lados, levando quase todos os envolvidos as lágrimas, inclusive ele mesmo.
Daniel também conheceu a família com quem vive sua mãe, pessoas que a abrigaram mesmo sem nenhum vínculo sanguíneo. Apesar da idade avançada, o pedreiro conta que a mãe permanece muito lúcida e com a saúde em dia e, assim como os familiares cuiabanos, não poupou as lágrimas durante o reencontro.
Na primeira conversa após o reencontro com o filho, mesmo sem tocar muito no assunto do desencontro de 51 anos, ela confidenciou que também havia perdido contato com o irmão mais novo de Daniel, tempos depois de ter se mudado do distrito onde moravam.
Apesar desta outra tristeza, Dona Ana se sente grata por poder ter encontrado seu primogênito após tantos anos.
O aposentado já planeja a visita pessoalmente para poder abraçar a mãe de novo após as longas cinco décadas.
“Tenho planos de ir agora no final do ano, estou juntando dinheiro para conseguir vê-la. A minha filha conversou bastante com ela e vai descer comigo para visitar minha mãe. Mas a verdade é que queria trazer ela para Cuiabá, para conhecer os netos, bisnetos e tataranetos”.