Lucilene da Rosa – Psicóloga Clínica – CRP 18/03609
Durante a semana que passou, os professores receberam muitas homenagens, inúmeras palavras de afeto e de gratidão pela escolha dessa profissão tão importante. Parte de uma trajetória cheia de surpresas, de preocupações e de infindáveis processos de estudos e treinamentos no intuito de atualizar-se e de acompanhar a dinâmica veloz com que a sociedade se desenvolve.
Pesquisas na área, já em 2018, apontavam que 66% dos professores, considerando uma amostra de 5.000 profissionais, precisaram se afastar de seu trabalho devido problemas de saúde tanto física, quanto mental. A Associação Nova Escola pronunciou-se: “Entre os problemas que apareceram com maior frequência no levantamento foram a ansiedade, citada por 68% dos educadores; casos de estresse e dores de cabeça (63%); insônia (39%); dores nos membros (38%) e alergias (38%). Além disso, 28% disseram já ter sofrido de depressão. ”
Diante de tal resultado a pergunta que não quer calar: Quem cuida desses profissionais que são autores principais na educação de crianças e adultos? Por qual motivo esses sintomas não são tratados em tempo anterior ao afastamento? A própria pesquisa conclui que não existe um espaço para que os educadores possam falar de seus sentimentos e de suas vulnerabilidades. Em geral, as exigências do trabalho são mais valorizadas do que o trabalhador em si. Dessa forma, uma alternativa saudável seria investir na saúde emocional dos educadores, proporcionando esse espaço de apoio.
Se isso já era uma realidade anteriormente, imaginem então como anda a saúde mental desses profissionais em 2020. Oriundos de uma cultura na qual a educação presencial é essencial para alcançar os objetivos do processo de ensino/aprendizagem, ou seja, a formação pedagógica dos professores em nosso país está centrada na relação presencial com o aluno. Daí... vem a pandemia da COVID 19... fecham-se as escolas, advém a necessidade do distanciamento social, como prevenção de contaminação e a exigência do momento é reinventa-se.
Vai lá professor! Agora as aulas serão remotas, você deverá usar toda a sua criatividade para convencer seu aluno a assistir suas aulas à distância e responder satisfatoriamente às atividades propostas! Além disso, você terá que convencer os pais a auxiliarem no seu trabalho, pois caso contrário, não haverá resultado!
Diante disso, o Instituto Península iniciou uma pesquisa com educadores em março de 2020 e já divulgou alguns resultados iniciais: “Os primeiros dados da pesquisa mostraram que mais de 90% dos educadores estavam muito ou totalmente preocupados com a situação que se assomava nas primeiras semanas. Além disso, 60% procurou usar o tempo em casa para se aprimorar e fazer cursos para se preparar para o momento. Ainda assim, na segunda etapa da pesquisa, 83,4% revelaram que não se sentiam preparados para o ensino remoto, e mesmo os professores com experiência e robusta formação em tecnologias e ensino a distância foram pegos de surpresa”.
É evidente que a adaptação a todas as mudanças necessárias à prevenção e ao tratamento da COVID 19 exigiu uma reestruturação na vida de todos os trabalhadores, bem como da população em geral. No entanto, “Eu escolhi ser Professor”, escolha que pesa ainda mais nesse momento, uma vez que esse profissional também tem família, também precisa sobreviver, tem que dividir seu dia entre ser educador, pai, mãe, trabalhador doméstico e ainda mostrar uma fisionomia feliz e descansada nos vídeos que apresenta ou envia aos seus alunos. Grande desafio, queridos professores e professoras, mas estamos fazendo história e no futuro teremos muito para contar.
Enquanto passamos por isso, algumas dicas podem ajudar a manter o seu equilíbrio físico e mental: mantenha uma rotina de trabalho de acordo com as horas que você faria na escola; compartilhe suas preocupações e aprendizados com os colegas de profissão pois você não está sozinho nesse desafio; estabeleça um tempo para as responsabilidades familiares, para o lazer e para o descanso; procure exercitar-se de forma prazerosa mesmo em casa; encontre técnicas de relaxamento; caso perceba que não consegue organizar-se sozinho ou sentir cansaço e desmotivação excessiva, busque ajuda profissional.
Para concluir, citando Maria Montessori: “O maior sinal de sucesso para um professor é poder dizer: As crianças agora estão trabalhando como se eu não existisse".
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