É possível que o dia 2 de novembro seja o dia mais triste do ano em nossa cultura. Mesmo que muitos não sejam católicos e alguns nem façam uma mesma leitura da morte, os Cemitérios são procurados para muitas homenagens no Dia de Finados, data de uma tradição da igreja romana definida como um feriado religioso.
No Cemitério Bom Jesus, em Castanheira, não foi diferente. Desde as primeiras horas do dia, centenas de pessoas visitaram túmulos, onde depositaram flores, alguns acenderam velas e fizerem preces, tomadas por lembranças de ente queridos, envoltas nos sentimentos inevitáveis oriundos da memória afetiva.
Entre os visitantes, Valdir Batista de Carvalho, morador há 36 anos na região, grande parte deles na linha 01, falou ao Castanheira News da saudade de sua mãe, Rosa Vieira de Carvalho, falecida em 2008. “Triste demais não a ter por perto”, disse.
José Lima de Oliveira, 80, com Samuel Souza Santos, 52, relembraram histórias de Manuel Vargens - patriarca de uma das maiores famílias de Castanheira - e outros familiares que já encerraram suas lidas terrenas. “Minha prece é para que Deus os tenha em um bom lugar”, observou o ancião, pecuarista, muito conhecido pela maneira gentil de tratar as pessoas, sempre com o acréscimo da frase“Sim Senhor!”.
Com o semblante marcado pela tristeza, ao lado de outro túmulo, Jairo Pereira da Silva, 38, lembrou algumas figuras que foram importantes em sua história. Com a voz embargada citou Êda, Edimar Lazzaroto, Anderson Pereira da Silva, entre outros.
Num ponto mais distante, Aley Westphal, 39, morador na Fazenda Solteirona, na linha do Aeroporto, movido pelo sentimento coletivo de saudade, visitava um espaço que pode ser visto como um memorial da família, onde foram sepultados o pai, Juscelino, os avós maternos, tios e outros.
Entre os mais jovens a visitar as centenas de túmulos enfileirados, Eliezer da Silva Flor, é um representante da geração marcada pelos efeitos da Covid 19. Com os olhos marejados de lágrimas, contemplava a foto da mãe, a querida Marileia S. da Silva Flor, a Léia, falecida em 23 de março der 2021, com apenas 42 anos de idade.
“É uma dor que esmaga o peito todo dia. Não tenho palavras para explicar a falta que ela faz”, observou Eliezer, na medida em que relia a homenagem feita com as palavras do texto bíblico de 2 Timóteo 4.7, “combati o bom combate, completei a carreira e guardei a fé”.
Na medida em que as horas transcorreram, histórias e histórias foram lembradas. Cada túmulo evocava narrativas, especialmente do final da vida de cada um. No bonito espaço que preserva a memória de Beatriz Ferreira da Siva, que deixou familiares e amigos em 05 de abril de 2015, quando tinha apenas 20 anos, difícil não se emocionar com o registro póstumo: “No horizonte da vida brilhou uma estrela cheia de luz, alegria e amor; essa estrela cresceu, iluminou e partiu, deixando sua luz em nossas vidas”.
A pouco mais de 100 metros da morada transitória de Bia, o túmulo solitário do Dr. Paulo Nogueira, falecido em 2017, lembra a competência de um médico e um dos seus últimos pedidos, em vida: que o corpo fosse enterrado debaixo de uma árvore. E assim foi. Depois de derrubada, por apresentar problemas, duas outras foram plantadas. Em breve lançará sombras sobre a bonita lápide.
E assim foi a quarta feira de finados em Castanheira, na última morada dos que foram abençoados com a dádiva da vida e já partiram. Os que hoje lembraram os que partiram, um dia serão reverenciados pelo que foram e fizeram e assim por diante. As boas lembranças no acolá, tem relação com aquilo que hoje se planta. Que as sementes hoje lançadas no solo dos relacionamentos sejam boas!