Uma fazenda que mantém metade de sua área preservada, mas cria gado e produz soja com índices surpreendentes está dando o que falar. O segredo é definido por seu proprietário, Pelerson Penido, em poucas palavras: “fazer gestão, medir, aplicar”. Entre suas lutas, está a de tentar convencer pecuaristas a mudarem seu jeito de fazer negócios.
A propriedade, Fazenda Roncador, considerada uma das maiores do mundo, fica em Querência, na região nordeste de Mato Grosso. Foi assunto de recente reportagem de O Estado de São Paulo, ao destacar um modelo que tende a crescer, o ILP, que integra lavoura e pecuária, preservando florestas.
Acompanhando as críticas constantes ao setor agropecuário, de ser a atividade econômica responsável pela maior parte das emissões de gases de efeito estufa no país, tanto causado pelo desmatamento associado a expansão da fronteira quanto pela fermentação entérica dos animais, sem abandonar seu negócio, Perleson tem conseguido aumentar a produção de alimentos, cuidando, ao mesmo tempo, da floresta e da fauna, mantendo metade de sua área preservada.
Na Roncador, ao longo de quatro meses, parte do terreno é ocupada com a agricultura. Um pouco antes da colheita, sementes de capim são jogadas por avião no terreno. “Quando colhemos a soja, o capim já está pequenininho no campo. No início da temporada seca, quem sobrevoa o norte de Mato Grosso, vê tudo seco na região. Mas, na fazenda está aquele mar verde escuro, de terra boa. Parece um oásis. E o gado, que antes tinha dificuldade de se alimentar na seca, agora tem seu período mais farto nesse período”, explica seu proprietário.
Um dos principais resultados da transformação da Roncador é o balanço do carbono. Na safra de 2007-2008 ela emitia 46,7 mil toneladas de CO2-equivalente, passando a capturar, em 2018, 89 mil toneladas. Na prática isto significa a neutralização das emissões anuais de dióxido de carbono de 51 mil carros.
A relação entre ocupação e produtividade da área da fazenda, que tem 152 mil hectares, também surpreende. No passado a pecuária ocupava 60 mil hectares. Hoje alcança 30 mil hectares. A produção de carne, contudo, cresceu 30%. Ou seja, mais produção em menos espaço.
A Fazenda cria 70 mil cabeças de gado e, na última safra, produziu 1,4 milhões de sacas de 60 quilos de soja, o que representa uma produção de alimentos 40 vezes maior do que há uma década.
Perleson Penido destaca que o produtor pode ser protagonista da história. “Se ele está sendo afetado por notícias negativas, tem de mostrar que pode ser um aliado do meio ambiente e grande beneficiário. Além de ganhar mais com a intensificação, pode ganhar com crédito de carbono. Temos de evoluir”, conclui.