A quinta feira, feriado de Corpus Christi, amanheceu linda em Castanheira. O sol, brilhante como nunca, parecia anunciar um dia diferenciado. E foi não pelo motivo comum, que todos citam (até o poeta), “um dia feliz, que as vezes é muito raro”, ao menos para algumas pessoas: os amigos de Florinda. Ela, que aguardava filhos, foi adotada tempos atrás. Desde então, cercada de carinho, costumava ficar em lugares onde seus próximos tem morada.
Um desses lugares, nas primeiras horas do dia, foi invadido por dois cães Pitbull's. O que aconteceu, a seguir, deve ter ligação com os céus, porque na terra, muitos poderiam ter sido vitimados.
Não se sabe se pelo instinto natural de proteção a si e a esses próximos, Florinda, com amigos de seu mundo, entrou numa briga feroz, sendo violentamente agredida. Sobre os agressores implacáveis, que teriam fugido de seu ambiente comum, a reputação não é das melhores. Embora nem todos sejam agressivos, muitos não são sociáveis ou amigáveis e mesmo quando não se inserem neste parâmetro, tem seu dia de cão. Que foi ontem!
Uma das cenas mais comoventes para os poucos castanheirenses que transitaram na hora do ataque, foi ver Florinda, com parte de suas entranhas expostas, no centro da Av. 04 de Julho, deixando para trás um rastro de sangue. Provavelmente queria chegar em outro de seus pontos de referência prediletos, também no centro, onde costumava ficar, cercada e amada. Socorrida e levada a Juína, acabou não resistindo, morrendo nesta sexta feira, 21.“Era um animal muito querido”, destaca alguém que conheceu a cadela que comoveu os castanheirenses com o seu drama por sobrevivência...
Quem fala com emoção sobre Florinda, é Vanderlei dos Santos. Quando saiu de sua casa, pouco antes da lamentável invasão, para buscar pão, ela abanou o rabo, como de costume, numa forma de expressar contentamento com os amigos humanos. Quando retornou, para o momento comum, diário, de tomar café com a família, deparou-se com um cenário de guerra, onde a luta era desigual. Os cães da casa se feriram. A visitante contumaz, Florinda, porém, agonizava mais que todos. “Não consegui evitar a morte de minha amiga”, lamenta. Destaca que ela deixou uma grande lição de amizade e de amor pelos lugares que a acolheram. Em tempos que esses sentimentos são tão raros entre os humanos, fica a lição de uma cachorra que deixa saudades. “Muita saudade!”, conclui Vanderlei.