O triste e cruel no luto relacionado a mortes como a de Tiarles Oliveira Negrão, é que algumas etapas fundamentais no processo de construção de sentido e aceitação da perda, como o velório, são suprimidas. Na tarde desta quinta-feira, 19, a família anunciou que o corpo só chega entre a madrugada e primeiras horas desta sexta. Como se passou muito tempo desde sua morte, desaparecimento e os trabalhos que precisaram ser efetuados, a decisão teve que ser tomada.
O caixão lacrado, que vai chegar direto no Cemitério Bom Jesus, onde amigos e familiares estarão esperando, geralmente simboliza uma realidade extrema. Neste caso foi o que aconteceu, pois, o jovem trabalhador, de 33 anos, vivendo um momento feliz com a conquista de um objetivo, uma nova motocicleta adquirida em consórcio, que facilitaria seu trabalho, foi alvo de uma maldade extrema, dessas que na perspectiva de um jovem poeta “endoidecem gente sã”. De uma família cuja maioria confessa a fé adventista, no entanto, o conceito é de uma dor que só Deus pode amenizar.
Nas últimas horas não tem faltado a solidariedade de amigos e até pessoas que não conhecem a família Negrão, oriunda do Paraná, e que se estabeleceu, grande parte, no noroeste de Mato Grosso no começo da década noventa, do século passado, para construir um novo sonho.
Muitos, incluindo Tiarles, 11 irmãos, acompanhando os pais, Seo Tiago e Dona Iraídes, escolheram Castanheira como novo chão. Na linha 03, onde ele chegou com 04 anos e viveu até os 23, alguns ainda são residentes. Por isto, hoje, aquele núcleo rural é referência de tristeza e solidariedade. E, em breve, de uma grande saudade, pois um dos seus filhos mais queridos, não mais aparecerá por lá.
Embora morando ultimamente em Canarana, depois de um tempo em Aripuanã e Paranaíta, sempre que podia ele voltava às suas origens em Castanheira. Foi ouvido pela última vez dia 11, uma quarta feira, por volta das 18 horas, quando telefonou de Canarana para familiares, informando uma viagem para Paranatinga, onde veria um serviço de pintura numa fazenda.
Embora morando ultimamente em Canarana, depois de um tempo em Aripuanã e Paranaíta, sempre que podia ele voltava às suas origens em Castanheira. Foi ouvido pela última vez dia 11, uma quarta feira, por volta das 18 horas, quando telefonou de Canarana para familiares, informando uma viagem para Paranatinga, onde veria um serviço de pintura numa fazenda.
Família se manifesta
Enquanto aguarda a chegada do corpo do filho, numa espera que certamente será a mais dolorosa de sua vida, a mãe, Iraídes, com lágrimas nos olhos, destaca qualidades que a história deixará para a posteridade: “Era um filho obediente, maravilhoso, só deixou boas lembranças”. As irmãs Vanessa e Silvia, impactadas pelo cenário que a perda criou, já falam em saudade. “Ele tinha um sorriso lindo, uma gargalhada maravilhosa e um coração enorme”, lembra Silvia, destacando qualidades que a maldade humana não poderá apagar.
A tristeza de uma morte
Sobre mortes semelhantes, que alguns chamam de inesperadas, Ana Claudia Quintana Arantes, médica, especialista em intervenções em luto, destaca o aspecto do desamparo. Do lado de Tiarles, que certamente não tinha nenhuma perspectiva imediata de morte, não houve ninguém para dar uma última palavra, quando foi atraído para a morte. Para os familiares e amigos, a perda repentina, sem uma despedida demorada e sem um último olhar, traz marcas que dificilmente o tempo apaga.
“Ultimamente ele falava muito em Deus, em viver mais próximo de Cristo”, observa a mãe, dando uma pista sobre uma forma de consolo: a certeza de que, num certo sentido, Tiarles está numa situação melhor do que os humanos, as vezes capazes de atos tão desumanos que não encontram paralelo pelo menos na realidade do aqui e do agora.