Em Castanheira, mesmo com flexibilização do governo municipal, via decreto, em relação aos cultos e ritos religiosos, nesses dias de corona vírus, algumas instituições do segmento resolveram, com o avanço do vírus, nas últimas semanas, suspender atividades. No caso específico de cultos e missas, talvez por uma visão equivocada da figura do templo, alguns fiéis questionam a decisão.
Quando se fala em “culto cristão” poucos textos lançam tanta luz como o do evangelho de João 4, versículos 19-30. Jesus ministra uma verdadeira aula sobre o assunto para o público menos recomendável aos olhos do legalismo religioso da época: uma mulher, o que já era um problema, porque nenhum homem de “boa índole”, para os religiosos hipócritas e para a cultura da época, conversava com uma mulher, em público. Esta, além de mulher era samaritana – raça odiada “pelos religiosos” – e prostituta.
Quer saber as lições do Mestre dos Mestres sobre “as bases espirituais do Culto Cristão”, tema compartilhado neste domingo, via online, para a Comunidade Nova Canaã, situada no Bosque da Saúde, em Castanheira?
Primeiramente, o que fica evidente, é que “não existe um lugar específico para a adoração”. Ligar a verdadeira adoração a lugares materiais, é superstição. Por isto Jesus responde para aquela mulher, que perguntava onde era certo cultuar. No seu tempo as duas referências maiores para isto, eram o monte e o templo, produzindo ferrenhas discussões. Jesus destaca que chegaria a hora, quando nem no Monte, nem em Jerusalém, eles adorariam. E aponta para outra direção: “Deus é espírito, e importa que seus adoradores o adorem em espírito e verdade”. Deus é infinito, eterno, não podemos limitá-lo a espaços ou representações humanas, como um pedaço de pau, um ídolo de ouro, prata ou barro.
A superstição busca lugares, ídolos, símbolos, amuletos, coisas ungidas, centos peregrinativos, gurus, aparições, missionários, bispos, reverendos. A verdadeira adoração, porém, se dá no coração, em espírito e verdade.
Um segundo princípio relevante no diálogo entre Jesus e a mulher samaritana é que “o verdadeiro culto não se reflete no cerimonialismo”. Cerimonialismo são formas externas e quase sempre visa impressionar. Ele envolve a liturgia, o brilho, a festa, as emoções, não que isto, em si, seja errado. Ele se estabelece em dois sentidos: num culto rígido, com gestos ensaiados, liturgia pomposa. Ou num culto carismático, com palmas, danças, sensações. Para Jesus, o culto cristão não deve se prender a esses aparatos. Em João 7,37, quando se fazia presente na Festa da Dedicação, na cerimônia do derramamento de água pelos sacerdotes, Ele se pôs em pé e declarou: “Quem tem sede, venha a mim e beba!”. O culto verdadeiro se dá mediante uma aproximação da alma sedenta do homem com Deus. Os gestos sacerdotais ou pastorais, palavras ensaiadas ou mecanizadas, expressões corporais ou reverentes podem ser “fogo de palha” se o adorador não estiver ligado a Deus.
Um terceiro princípio sobre o culto verdadeiro, deduzível do encontro de Jesus com a Mulher Samaritana, é que “o culto tem que ser cristocêntrico”. A mulher samaritana tinha uma visão correta deste aspecto, pois deixa a entender, no diálogo, que sabia que quando o Messias viesse, o problema em relação ao lugar seria solucionado. Jesus é o mediador do culto, pois num culto Deus e o homem se encontram: o eterno com o passageiro, o finito com o infinito, o espiritual com o carnal. Deve, portanto, existir um mediador. Jesus é o mediador perfeito, porque é Deus, mas também assumiu a forma humana. É impossível, portanto, um culto verdadeiro sem a mediação de Jesus Cristo. Ele deve ser o centro do culto. Quando isto não é real, o homem sujeita-se a condenação.
Finalmente, o verdadeiro culto cristão “tem que ter um caráter transformador”. A mulher samaritana, após este encontro com Jesus Cristo, teve sua vida mudada. Abandonou a prostituição e se tornou uma missionária. A validade do culto que prestamos a Deus é provada pela vida que levamos, em integridade. Neste sentido, o culto não é apenas o momento em que comparecemos à Casa de Deus. Vivemos em culto permanente quando obedecemos, quando somos leais e acima de tudo quando vivemos, na prática, todas as demandas do amor. Assim, se depois de voltarmos do templo não demonstramos um comportamento diferenciado em nossas interações diárias, sejam elas quais forem, na verdade não cultuamos. Essa prática pode ser qualquer coisa, menos o ato de cultuar.
Essas são as bases espirituais do verdadeiro culto cristão presumíveis a partir dos pressupostos indicados por Cristo no diálogo memorável com essa mulher. E devem ser as referências mais seguras sobre o assunto.
Vivaldo S. Melo
Vivaldo S. Melo