Em 7 de setembro de 1980 chegava a região de Castanheira, quando tudo era mato, mais uma família de pioneiros. Capixaba de Alto Rio Novo, município de Pancas, Zilda Calouro, a matriarca, foi rápida em fazer uma leitura otimista: a região cresceria e instalar um Hotel seria uma boa opção. Pouco tempo depois o Hotel Castanheira seria uma realidade, permanecendo como um espaço de muitas histórias ao longo de 32 anos, na Av. 04 de Julho, que durante muito tempo uma das duas únicas ruas existentes na cidade e isto até os limites onde se encontra o Banco Sicredi.
Só Zilda dedicou-se vinte anos a aquele espaço de acolhimento, “não sabendo o que era dormir direito”. Não havia luz e a única opção era o velho lampião de gás. A água era armazenada numa caixa de 250 litros, depois de ser alçada para cima numa estratégia de várias mãos. Como servia refeição e não havia açougue, recorriam ao abate diário de frangos.
Há pouco fechado, por falta de funcionário e até pelo desejo, merecido, de um descanso, este lugar ainda é disponibilizado em ocasiões especiais, como a Expocas.
Lembranças
Completando setenta anos, sendo trinta e seis de Castanheira, dona Zilda consegue lembrar com clareza de fatos e detalhes que as gerações mais jovens certamente não sabem. Quando chegou, uma das poucas referências de movimento era o chamado Entroncamento, onde as vias que demandavam a Fontanilas e Juína se encontravam. Ali, num pequeno complexo que comportava um dormitório e restaurante, do Capixaba, havia um Posto Fiscal, onde o Sr. Marciano, mais conhecido por Piauí, genitor de José Albino, controlava entradas e saídas de viajantes, utilizando um correntão como instrumento para facilitar a averiguação.
Dona Zilda, o esposo, João José Brito, mineiro de Ataléia, já falecido, os filhos Nilson – então com 14 anos – Sonia e Veracilda, esperaram cinco meses para começar a construir a residência que seria o ponto de partida para o Hotel Castanheira e a primeira construção de caráter domiciliar de Castanheira, desmanchada há pouco tempo nas imediações do Mercado Pingo de Mel. Uma vez estabelecidos, começaram a fazer parte dos cenários iniciais do futuro município, desmembrado de Juína em 04 de julho de 1988.
Lúcida, lembra de cada detalhe do ontem, onde centenas de castanheiros ainda não tinham sido tombados pelo avanço do homem.
O primeiro mercado teve vida curta, sendo construído pelo Sr. Jorge Martins, de Juína, no local onde hoje existe a Sorveteria do Arno. Já o precursor do transporte de passageiros na modalidade taxi foi o Sr. Quintino, vitimado por um acidente automobilístico na região. Os que vinham de ônibus, especialmente de Cuiabá, tinham no Hotel Castanheira e nos cuidados dos Calauros, uma referência segura.
Muitos eram os “gatos”, nome dado aos peões empreitados por madeireiros, para as derrubadas que fomentaram o ciclo da madeira, lembrado por Dona Zilda como uma época economicamente esplendorosa, principalmente no ápice da Madeireira Rezieri.
Dos cinco netos nascidos em solo castanheirense, a pequena Patrícia não sobreviveu. Nicoli, filha de Sonia e Henrique, e Kauana, Kleber e Kleper, filhos de Nilson, completam o ciclo de Dona Zilda, definida por todos como “alguém muito especial”.