Uma cova rasa, provavelmente feita às pressas. Ao redor, algumas pessoas chorosas contemplam um homem de vestes rústicas, mãos calejadas, que com uma pá, cobre o caixão, simples, envolto em tecido barato, com as sobras da terra já jogada pelas mãos de amigos e familiares, prática da cultura local.
A cena, acima, remontando aos anos 80 do século XX, quando os primeiros enterros aconteceram em Castanheira, definitivamente passa a ser uma coisa do passado. Deve permanecer, doravante, algumas crendices, o predomínio da fé de que os mortos ressuscitarão um dia (reforçado em cada ato religioso) e a dor inevitável da ruptura mais cruel entre viventes, que não poupa ninguém, nivelando todos. Daí dizer-se que a morte é a mais democrática de todas as experiências.
O Cemitério da cidade, denominado Bom Jesus, acaba de receber licença ambiental, o que o torna, finalmente, legalizado. Vários requisitos foram determinantes para essa conquista burocrática (e necessária). Entre eles, foram construídos três poços artesianos para monitoramento de possíveis níveis de contaminação do lençol freático e iniciada a prática de sepultamentos apenas em caixas de concreto.
Na esteira deste avanço, há quem reivindique outros, como a sua iluminação e, quem sabe, até uma capela mortuária no próprio local. Se alguém acha estranho, saiba-se que o turismo de cemitério se fortalece cada vez mais no mundo, trazendo essas e outras inovações, afinal é preciso dar mais visibilidade às lápides de cada morador que já se foi, a partir das quais várias histórias de uma história são contadas.