Quem ouve as histórias sobre Jorge Sebastião dos Santos, 88 anos, contadas por filhos, netos e bisnetos, tem a certeza de que ele foi um desses homens dos quais o poeta alemão Bertholt Brecht diria ter sido raro. Construiu uma trajetória com síntese numa expressão: trabalho.
Nascido no pequeno município de Vertentes, no agreste setentrional de Pernambuco, em 30 de agosto de 1931, seguiu com familiares uma rota comum a muitos imigrantes que chegaram a Mato Grosso na segunda metade do século passado. Do Paraná para Tangará da Serra até chegar na região da linha 9, na divisa entre Juína e Castanheira e, por último, no 1º Assentamento, no Vale do Seringal, foram anos e anos de árduo trabalho.
“Ele criou todos os filhos lidando com a terra”, conta João Sebastião dos Santos, 52, um deles. E não foram poucos: 18, dos quais nasceram 44 netos, 71 bisnetos e 03 tataranetos. Muitos estavam na Casa da Saudade, na noite desta quarta-feira, 18, depois do corpo chegar de Juína, onde faleceu, na UTI do Hospital São Lucas, por volta das 17 horas, encerrando um tempo de mais de dois anos de sofrimento, por agravamento na saúde.
Com prole tão enorme, as conversas sobre “Seo” Jorge madrugada adentro, tinham o tom de uma enorme saudade. Maria do Carmo dos Santos Rodrigues, 62, filha mais velha, trouxe à memória lembranças das bodas de Ouro com sua mãe Gertrudes Barbosa dos Santos, já falecida, em festança inesquecível na Comunidade São Jorge, no 1º Assentamento. Renato Sebastião dos Santos, 42, o mais novo, destacou a paixão do pai pela caça, num tempo no início da década de 80 do século passado, que densas matas prevaleciam na região. Os netos Amanda, Géssica, Luana e Gustavo falaram de um avô amoroso e brincalhão.
E assim as horas se passaram. O clima não era de tristeza, mas de alegria, por aquilo que este bom esposo, pai, avô, bisavô e tataravô foi para os que o conheceram. Seu corpo deve ser sepultado nesta quinta-feira, em horário não determinado, para repouso temporário no Cemitério Bom Jesus. Sim, porque cristão confesso, ele morreu acreditando que a vida não termina por aqui.