As memórias, os filhos e os pais

Quem perturba a casa, herda vento. Quem planta o bem, deixa herança aos filhos de seus filhos. Essas duas expressões, da pena famosa de Salomão, indicam algo comprovado pela psicologia: os pais são responsáveis pela construção das memórias de seus filhos e além desses. Ou seja, o que  imprimem, a partir dos conceitos e especialmente dos exemplos, definem o que eles acabam se tornando.
A análise bíblica deste assunto, fundamental para compreendermos a dinâmica da vida sob a ótica da fé cristã, vai mais longe. Foca na importância da figura paterna, associada ao ofício sacerdotal. Se o sacerdote tinha a dupla responsabilidade de apresentar Deus ao povo e o povo a Deus, o pai, dentro de casa, precisa exercer prioritariamente essa função. Sua omissão talvez explique parte dos problemas enfrentados no seio da família.
Mas, independentemente deste aspecto – afinal a mãe, como auxiliadora, é parceira deste projeto – o certo é que as lembranças e percepções projetadas aos filhos, estão na base daquilo que eles se tornam. Por isto Elis Regina cantou que “apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”. Daí, a relevância da pergunta: “Que memórias construímos em nossos filhos, especialmente na fase da formação de seus valores?”. Se bater um arrependimento e talvez a consciência de que ignoramos o mesmo Salomão, que apontou “o caminho que se deve andar” associado a vontade de Deus, revelada nas Escrituras Sagradas, resta-nos a lembrança de que n’Ele, mediante Cristo, há concerto. E do velho adágio, “antes tarde do que nunca!”.